Promover acolhimento, ações de cidadania, diversidade e proteção de direitos a mulheres em situação de rua, vítimas de violência e outras vulnerabilidades. Essa é a proposta do novo Centro de Convivência e Diversidade Maria Lúcia, inaugurado na última sexta-feira (4), no bairro da Saúde, em Salvador.

O espaço é uma iniciativa do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, por meio do Coletivo de Mulheres Cis e Trans Marias em Movimento, e conta com o apoio do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, juntamente com outras instituições parceiras.

Sueli Oliveira, coordenadora nacional do Movimento População de Rua da Bahia

“Acreditamos que é preciso desenvolver mecanismos que apresentem outras perspectivas a esse segmento da população que, historicamente, teve seus direitos omitidos. A criação do espaço é por entender que a violência contra as mulhereres Cis e Trans é um fenômeno multifacetado e a sua dimensão é estrutural, que requer uma atuação multidisciplinar e intersetosserial˜, destacou Sueli Oliveira, coordenadora nacional do Movimento População de Rua da Bahia, durante a abertura do evento.

A parceria entre o Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e os movimentos sociais de pessoas em situação de rua de Salvador vem se fortalecendo nos últimos anos. Em 2020, no início da pandemia de Covid-19, foi criado o projeto “Nós nas Ruas”, liderado pela professora Joilda Nery (ISC/UFBA). A iniciativa distribuiu milhares de kits de higiene e alimentos, além de promover atividades de educação em saúde voltadas para a população em situação de rua na capital baiana.

Luis Eugenio de Souza, diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA

O professor Luis Eugenio de Souza, diretor do ISC/UFBA, parabenizou os movimentos sociais pela conquista do espaço e agradeceu a parceria que vem sendo construída junto com a universidade. “É esse contato com a realidade social que nos permite formar profissionais que sejam não apenas competentes tecnicamente, mas que também sejam comprometidos socialmente e eticamente responsáveis com o exercício de sua profissão”, pontuou o professor.

O evento de inauguração do Centro de Convivência e Diversidade Maria Lúcia também contou com a participação da secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), Fabya Reis; da defensora pública geral da Bahia, Firmiane Venâncio; da superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos, Trícia Calmon; além de outras autoridades políticas e representantes de movimentos sociais.

Maria Lúcia, presente!

O espaço homenageia Maria Lúcia Santos Pereira, fundadora do Movimento de População de Rua da Bahia, que faleceu em 25 de abril de 2018, aos 51 anos. Mulher negra, de família humilde, nasceu na cidade de Itapetinga e viveu por 16 anos em situaçao de rua na cidade de Salvador.

Maria Lúcia dedicou sua vida a diminuir os riscos para a população de rua. Em 2026, recebeu o titulo de cidadã soteropolitana, concedido pela Câmara Municipal de Salvador. Ela também foi condecorada, no mesmo ano, com a Medalha Zumbi dos Palmares, dedicada a pessoas atuantes no combate ao racismo, discriminação e intolerância na cidade e no estado.

“Maria Lúcia, assim como Marielle Franco, foi tirada de nós pela estrutura racista. Mas ela não caminhava sozinha. Essa casa aqui é uma semente de Maria Lúcia que se perpetuará”, destacou Lindinalva de Paula, coordenadora da Casa da Mulher Negra da Bahia (CMNB).

A história de Maria Lúcia é retratada no documentário “Filha da Rua”, exibido durante o evento, e disponível no link abaixo: