Compartilhar experiências e apresentar os principais resultados obtidos pelos residentes ao longo de 2021. Esse foi o objetivo de uma série de encontros promovidos nos dias 15 e 22 de dezembro pela coordenação do Curso de Especialização em Saúde Coletiva, sob a forma de Residência, na área de concentração em Planejamento e Gestão em Saúde. As atividades desenvolvidas pelos residentes ocorreram com a preceptoria de profissionais da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salvador, sob a supervisão dos professores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA).
Residente da turma do segundo ano (R2), a fonoaudióloga Lígia de Gaia conta que o interesse pelo curso do ISC surgiu depois de trabalhar em equipes multiprofissionais da atenção básica na cidade de São Paulo por cinco anos. “Sentia necessidade de entender melhor como funcionava a elaboração das políticas públicas e planejamento em saúde que atendessem às necessidades do território em que eu atuava”, afirma.
Desde que começou a residência, em março de 2020, a fonoaudióloga atuou em diferentes cenários de trabalho e instituições. No âmbito municipal, integrou a equipe da Diretoria de Atenção à Saúde (DAS) da SMS, participando tanto da elaboração do Plano Municipal de Saúde para a Infância e Adolescência (2022-2030), como do Plano Municipal para Doenças e Agravos Não-Transmissíveis. “Através dessa experiência, foi possível estudar e contribuir com diversos profissionais das diretorias envolvidas e com as práticas de planejamento para a construção de planos voltados a importantes problemas de saúde da cidade de Salvador”, destaca.
Já no nível estadual, participou da equipe da Diretoria de Atenção Básica (DAB) da Sesab, onde contribuiu para o processo de monitoramento e avaliação de 2021 e do planejamento dos trabalhos da diretoria para 2022, além de colaborar nos processos de implantação das chamadas “Salas do Pé Diabético”, destinadas ao tratamento do pé diabético e feridas complexas de pacientes com diabetes, e no apoio ao “Acolhimento Pedagógico para Equipes de Saúde da Família”, programa que tem o objetivo de acolher os trabalhadores da Estratégia Saúde da Família (ESF) a partir da formação de facilitadores no Estado.
Prestes a concluir a especialização, a residente espera conquistar outros espaços a partir da experiência acumulada. “Tenho grande expectativa de que, após finalizada a residência, eu consiga me inserir no serviço público e contribuir com as práticas de planejamento e gestão do SUS, honrando meu novo título de sanitarista formada pelo ISC/ UFBA”, aposta.
“Sempre foi a minha primeira escolha”
Residente da turma do primeiro ano (R1), a fisioterapeuta Milenna Wild Guimarães já se interessava pela área da saúde coletiva desde a época da graduação. Na residência de Planejamento e Gestão em Saúde do ISC, enxergou a possibilidade de mudar determinados contextos ao aliar educação e gestão. “Sempre foi a minha primeira escolha, tanto por realização pessoal, quanto por unir duas áreas que sempre tive muita afinidade e desejo de trabalhar”, afirma.
Junto com os colegas da turma do primeiro ano, ela participou de atividades voltadas à elaboração do Plano Municipal de Saúde de Salvador, documento que contempla as ações essenciais para a saúde do município pelos próximos quatro anos. “A experiência nos permitiu compreender a realidade e diversidade de contextos que Salvador possui, dentro de cada território, além de conhecer os fluxos de funcionamento e os processos de trabalho em cada distrito”, aponta.
Ao final do primeiro ano, a residente destaca o amadurecimento que vem conquistando através das relações interpessoais e dos processos de trabalho, especialmente pela troca de saberes entre os diversos profissionais envolvidos e a própria comunidade. “Espero, cada vez mais, contribuir para o fortalecimento do SUS a partir da minha perspectiva individual e coletiva”, diz.
Parceria com Município e Estado
Responsável por orientar os residentes do primeiro ano (R1) do curso de Planejamento e Gestão em Saúde, no âmbito municipal, a enfermeira Ana Rita Clemente Conceição, chefe da Vigilância Epidemiológica do Distrito Sanitário de Brotas, destaca o papel dos preceptores na condução dos residentes através da integração entre ensino, serviço e comunidade. “Faz parte das nossas atribuições, enquanto trabalhadores do SUS, contribuirmos para a formação dos profissionais da saúde que farão parte do sistema em todos os seus níveis, da graduação à especialização. Os residentes encontram oportunidades para vivenciar na prática os conteúdos adquiridos na universidade, bem como enfrentar os desafios do mundo do trabalho”, observa.
Incorporados às equipes de trabalho, os residentes participam de projetos locais e, com o apoio e orientação do professor supervisor da universidade, buscam alternativas e soluções para as necessidades encontradas em cada serviço. “Os produtos construídos são sempre robustos e fundamentados em literatura atual, com propostas de resolução de problemas baseadas em evidências, favorecendo uma constante oportunidade de educação permanente para os técnicos envolvidos e contribuindo com o serviço de saúde”, aponta Ana Rita Conceição.
Na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), os residentes também têm participado de diversas pautas no contexto da atenção básica, como a implantação das “Salas do Pé Diabético” e no apoio ao “Acolhimento Pedagógico para Equipes de Saúde da Família”. Mais recentemente, participaram ainda das Oficinas de Avaliação das Ações de 2021 e Planejamento das Atividade de 2022.
Para Marcus Prates, assessor técnico da Diretoria de Atenção Básica (DAB) da Sesab e preceptor do segundo ano (R2), a residência é uma oportunidade especial para os profissionais aliarem a teoria e a prática na consolidação da carreira. “Os residentes associam os conhecimentos teóricos adquiridos durante a residência com as atividades de campo já aprimorada em outros espaços, a exemplo dos serviços de saúde sob gestão do município de Salvador, e ampliam a visão para o espaço de gestão estadual, desenvolvendo estratégias que permitem implementar as ações programadas e executadas pela assessoria”, destaca.
O apoio ao SUS
O professor Luis Eugenio de Souza, diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, considera os cursos de especialização sob a forma de residência uma potente estratégia de qualificação profissional, principalmente pela inserção supervisionada dos residentes nos serviços de saúde. “Em seu processo formativo, os residentes têm apoiado de maneira substantiva os serviços em que atuam, favorecendo as práticas de educação permanente dos demais trabalhadores e contribuindo para a efetividade dos serviços”.
Entre as principais contribuições dos residentes ao longo dos últimos anos, ele destaca a participação dos jovens profissionais na construção e implementação de planos distritais e municipais de saúde, relatórios de gestão, organização de conferências de saúde, boletins epidemiológicos e formulação de programas de saúde, a exemplo do “Salvador Protege”, programa implantado pela Prefeitura de Salvador e que utiliza recursos da telemedicina na atenção básica para o acompanhamento de ações voltadas para a Covid-19 e para as demais patologias.
Para o professor, as residências contribuem não somente para a formação de especialistas tecnicamente competentes, mas também eticamente responsáveis e socialmente comprometidos com a construção do Sistema Único de Saúde. “A oferta de cursos de residência representa uma oportunidade ímpar de cumprir sua missão de formar quadros técnicos especializados e apoiar o desenvolvimento do SUS universal e igualitário”, avalia.
Pandemia de Covid-19
Desde o início da pandemia, as atividades teóricas e práticas da residência seguiram a programação e planos de trabalho elaborados de modo compartilhado entre os residentes, professores supervisores e preceptores dos serviços de saúde. “A participação dos residentes de ambas as turmas foi intensa e tivemos as ações de enfrentamento à Covid-19 como projeto dinamizador ao longo de todo o ano passado. Em 2021, as demandas de gestão e planejamento para o enfrentamento da pandemia foram mantidas e ajustadas à situação atual”, explica a professora Mariluce Souza, coordenadora da residência de Planejamento e Gestão em Saúde.
A professora destaca o importante papel desempenhado pelos residentes desde o início da pandemia na elaboração de planos de contingência, informes epidemiológicos, boletins informativos, peças de comunicação, organização de fluxos e processos de trabalho. Em 2021, acrescenta também a colaboração dos residentes na análise de situação de saúde (2010-2020) e a participação no processo de elaboração do próximo Plano Municipal de Saúde de Salvador (2022-2025).
Para a professora, o curso representa a excelência entre ensino-serviço e o desenvolvimento de competências para o planejamento e a gestão em saúde, nos níveis local, distrital e central. “A oferta do curso pelo ISC reafirma o compromisso com a formação de especialistas em Saúde Coletiva para o fortalecimento do SUS enquanto sistema de saúde público, integral e de qualidade”, conclui.
Histórico da residência
O Curso de Especialização em Saúde Coletiva, sob a forma de Residência, na área de concentração em Planejamento e Gestão em Saúde foi implantado no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA em 2016. Na época, a seleção para ingresso contemplava três diferentes formações: Odontologia, Enfermagem e Saúde Coletiva.
Com duração de dois anos, o curso tem 34 residentes atualmente, divididos em duas turmas. Além das três formações iniciais, foram inseridas outras quatro categorias nos últimos anos: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia. No total, são 18 vagas oferecidas anualmente, sendo seis vagas para a formação em Saúde Coletiva e duas vagas destinadas para cada uma das demais formações.
Desde que foi implantado, o curso já formou quatro turmas, com egressos atuando em serviços de saúde estaduais e municipais em todo o país. A próxima turma está prevista para ser concluída em março de 2022. Além de Planejamento e Gestão em Saúde, o ISC também oferece o curso de especialização na modalidade de residência em outras duas áreas de concentração: Epidemiologia e Primeira Infância.