Na última quinta-feira, 14 de novembro, o G20 Social discutiu como a prioridade para as crianças nos primeiros anos de vida pode ser a chave para romper ciclos de pobreza e desigualdades. Na ocasião, a professora Dandara Ramos (ISC/UFBA) foi uma das convidadas do painel “O Alto Retorno do Investimento na Primeira Infância na Promoção do Capital Humano e na Estratégia de Combate à Pobreza e às Desigualdades”.

Promovido pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em parceria com a Theirworld e a ANDI – Comunicação e Direitos, o painel reuniu especialistas e autoridades para mostrar que investir na infância não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia poderosa para o desenvolvimento humano e econômico.

Em sua participação, a professora Dandara Ramos apresentou um panorama sobre as desigualdades no desenvolvimento da primeira infância no Brasil, destacando os desafios e avanços nesse campo. Dados alarmantes mostram que cerca de 39% das crianças brasileiras viviam em extrema pobreza em 2022, enquanto 49% enfrentavam pelo menos uma privação não monetária, como acesso inadequado a saúde, educação ou saneamento.

Segundo a professora, a pobreza infantil no Brasil assume diversas configurações, que vão além dos critérios convencionais de linhas de pobreza, exigindo abordagens mais abrangentes e inclusivas. A apresentação destacou que as disparidades estruturais no acesso a serviços essenciais perpetuam um ciclo intergeracional de desigualdades, impactando negativamente o desenvolvimento das crianças e suas perspectivas de vida digna.

Apesar dos desafios, a análise mostrou avanços nas últimas décadas. As taxas de mortalidade infantil foram reduzidas significativamente entre 1999 e 2021, especialmente para causas evitáveis. Contudo, persistem disparidades raciais: crianças indígenas e negras apresentam mortalidade infantil mais alta em relação a outros grupos.

Um dos pontos centrais abordados foi o impacto das políticas sociais, como o Bolsa Família, na redução da mortalidade infantil. Dados apresentados indicam que transferências de renda foram decisivas para melhorar os indicadores de saúde infantil, principalmente em municípios mais pobres. Dandara Ramos destacou que a ampliação da cobertura dessas políticas poderia evitar até 148.736 mortes de crianças até 2030, mesmo em cenários de crise econômica.

A professora enfatizou que a erradicação da pobreza infantil deve ser um objetivo transversal em todas as políticas voltadas à primeira infância. Além disso, é fundamental reconhecer e enfrentar as injustiças estruturais que mantêm as desigualdades, promovendo estratégias integradas que garantam um desenvolvimento equitativo para todas as crianças brasileiras.

“Discutimos as evidências científicas sobre o impacto da pobreza e das desigualdades no desenvolvimento das crianças pequenas, fortalecendo a aliança da sociedade civil e dos governos em defesa de todas as infâncias. Por um futuro mais justo e cheio de possibilidades”, concluiu Dandara Ramos.

Sobre o G20 Social

O G20 Social é uma iniciativa inédita promovida pelo governo brasileiro durante a presidência do país no G20, com o objetivo de integrar a sociedade civil ao processo de construção de políticas públicas no âmbito do bloco das maiores economias do mundo. Anunciado pelo presidente Lula na Cúpula do G20 em Nova Délhi, o projeto busca ampliar a participação de atores não-governamentais, refletindo o lema da presidência brasileira: “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”.

A proposta engloba 13 grupos de engajamento, incluindo interações entre os grupos de engajamento e as trilhas política e financeira do G20. Além disso, movimentos sociais brasileiros, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Central Única das Favelas (CUFA) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), participam ativamente da organização da Cúpula Social, conferindo pluralidade às discussões.

O ponto culminante do G20 Social foi a realização da Cúpula Social, entre os dias 14 a 16 de novembro, no Rio de Janeiro, reunindo cerca de 50 mil pessoas. O evento apresentou os resultados das discussões ao longo do ano, promovendo uma troca de experiências que influenciará a Declaração de Líderes do G20. A iniciativa busca consolidar valores como justiça social, econômica e ambiental, além de propor soluções para reduzir desigualdades globais, reforçando o papel do Brasil como protagonista em pautas essenciais para o futuro do planeta.