Com informações da Abrasco
O professor Luis Eugenio de Souza, diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, tomou posse como presidente da Federação Mundial das Associações de Saúde Pública (WFPHA). A cerimônia foi realizada na última quinta-feira, 19 de maio, durante Assembleia Geral promovida pela entidade. O professor ficará à frente da WFPHA até 2024.
Fundada em 1967, a Federação Mundial de Associações de Saúde Pública representa uma voz internacional para a sociedade civil organizada na luta pela saúde. Luis Eugenio de Souza, que também já presidiu a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (2012-2015), é o segundo brasileiro a liderar a federação. Na mesma ocasião, Emma Rawson Te Patu, da Associação de Saúde Pública da Nova Zelândia, também foi eleita vice-presidente da entidade.
Em seu discurso de posse, Luis Eugenio de Souza destacou os desafios globais em decorrência da Covid-19 e demais emergências em saúde pública, assim como o compromisso de contribuir para avançar a luta pela equidade em saúde e por um maior protagonismo das populações vulnerabilizadas.
“Não há ações concretas para mitigar a crise por parte dos atores globais mais potentes – sejam grandes corporações transnacionais ou os governos das grandes potências mundiais. Pelo contrário, esses atores continuam seus negócios, como sempre, mesmo sabendo que esse modelo de negócios é o responsável final pela crise. Nesse contexto, os desafios para assegurar o direito à saúde são enormes”, disse.
Para Souza, a boa notícia é que a sociedade civil está cada vez mais atenta e articulada para o fortalecimento da saúde como um direito humano de todos. Nesse sentido, destacou ações e campanhas que a WFPHA tem liderado, indicando a atuação das redes em prol da equidade em saúde.
Segundo o professor, é urgente o cessar fogo e o início de negociações de paz em todas as regiões do mundo que vivenciam situações de guerra. Ele também parabenizou a Organização Mundial de Saúde (OMS) pela decisão de levar o tema “Saúde pela Paz, Paz pela Saúde” para a Assembleia Mundial da Saúde, que acontece entre os dias 23 a 27 de maio.
O presidente empossado acrescentou ainda a necessidade de atuar sobre as causas estruturais para controlar a pandemia de Covid-19 e prevenir futuras pandemias, como ações de combate à degradação ambiental, às desigualdades sociais e fortalecer os sistemas universais de saúde. Para o professor, essa agenda só será viável a partir do fortalecimento da unidade entre os atores da sociedade civil comprometidos com a promoção da igualdade e com o respeito às diferenças.
Por fim, Luis Eugenio de Souza ressaltou que a construção dessa agenda está articulada ao Plano Estratégico da WFPHA 2023 – 2027, baseado em análises sobre a situação de saúde no mundo e a governança em saúde e na renovação da missão, da visão e dos valores da WPFHA e suas estruturas. Leia o discurso na íntegra.
“Minha atuação no Brasil orienta minha atuação na saúde global”
Em entrevista à Comunicação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luis Eugenio de Souza expôs perspectivas para a tarefa que tem pelos próximos dois anos à frente da WFPHA, além de traçar um panorama dos desafios para a saúde global, e abordar o papel da Abrasco em seu percurso.
Comunicação Abrasco – Como se sente ocupando esse posto – partindo da perspectiva de que é baiano, brasileiro, latino-americano?
Luis Eugenio de Souza – Em primeiro lugar, sinto-me honrado com a confiança de colegas – profissionais de saúde pública de todo o mundo – que lideram mais de 50 associações nacionais de saúde pública e compuseram a assembleia geral da Federação que me elegeu em 2020. Em segundo lugar, sinto orgulho da Saúde Coletiva brasileira, cujo reconhecimento internacional, seja no campo científico, seja na arena política da saúde pública global, foi, mais do que qualquer eventual qualidade pessoal minha, o principal responsável pela minha eleição. Como latino-americano, sinto uma responsabilidade enorme, com a obrigação de contribuir para fortalecer os laços entre a comunidade da saúde pública da América Latina e a comunidade mundial. Finalmente, como baiano, sinto-me muito confortável, contando com a proteção de Oxalá.
Comunicação Abrasco – Pensar saúde no Brasil molda as suas reflexões e o modo de pensar saúde global?
Luis Eugenio de Souza – No Brasil e no mundo, a principal característica da situação de saúde, do ponto de vista populacional, são as iniquidades. O Brasil é campeão de desigualdades sociais que incluem a situação de saúde e o acesso a serviços de qualidade. No mundo, em geral, a situação é a mesma. Basta lembrar a vexatória iniquidade na distribuição das doses de vacinas contra a Covid-19. Internacionalmente, a atuação em saúde global das organizações da sociedade civil de interesse público é fortemente orientada pela busca da redução das desigualdades e pela promoção da equidade. Nesse sentido, considero sim que minha atuação no Brasil molda ou orienta minha atuação na saúde global.
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