Com quase cinco décadas dedicadas ao ensino e à pesquisa, a professora Vilma Santana (ISC/UFBA) recebeu mais um reconhecimento pela sua trajetória, marcada especialmente pela luta na consolidação da Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS). A homenagem foi concedida pela Coordenação-Geral de Saúde do Trabalhador (CGSAT/ DSAST/SVS/MS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, e publicada no dia 28 de abril.
“O objetivo é reconhecer e agradecer toda a contribuição técnica, acadêmica, científica e social que a professora Vilma Santana dedicou para o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) e da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), demonstrando seu comprometimento e a dedicação ao tema”, destaca Flávia Ferreira de Souza, Coordenadora-Geral de Saúde do Trabalhador (CGSAT) do Ministério da Saúde.
Entre as diversas contribuições de Vilma Santana para o campo da Saúde do Trabalhador, está a criação do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador (Pisat), que integra a estrutura matricial do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA desde 1996. Trata-se de um dos mais importantes núcleos do país especializados em pesquisa, cooperação técnica e ensino da epidemiologia na área da Saúde do Trabalhador. Desde 2008, o Pisat passou a ser um centro colaborador do Ministério da Saúde, mantendo um portal na web onde são disponibilizados boletins epidemiológicos em formato digital e audiovisual, tutoriais de uso de sistemas de informações e outros documentos normativos.
O programa é pioneiro na oferta de ensino a distância e, desde 1999, mantém cursos de especialização na área da Saúde do Trabalhador. Entre as formações oferecidas, destaque para as duas edições dos Cursos de Especialização a Distância em Epidemiologia em Saúde do Trabalhador (CEPIST), realizado pelo ISC em parceria com o Ministério da Saúde. No total, 196 alunos produziram monografias com foco na análise da situação de saúde do trabalhador em diferentes territórios do país.
Os resultados foram publicados em um livro exclusivamente autoral de profissionais da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) e seus tutores. A parceria evidencia a importância da formação de estudantes, gestores, serviços e trabalhadores, na perspectiva de garantir a oferta de pessoal em quantidade adequada à consolidação da Vigilância dos Agravos à Saúde do Trabalhador no Brasil através do SUS.
“Esse reconhecimento é inegavelmente da minha casa, a Universidade Federal da Bahia, especificamente do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina e, do Instituto de Saúde Coletiva, onde atuo, aprendo, vivo e me fortaleço para o enfrentamento dos desafios que nos colocam a Saúde do Trabalhador”, avalia Vilma Santana.
Em nota sobre a homenagem, a professora aponta os avanços no campo da Saúde do Trabalhador, frutos da existência e relevância social do SUS, reconhecido como uma das mais importantes políticas sociais no mundo. “Diferentemente de outros países, cuja rede de proteção e cuidado à saúde dos trabalhadores é restrita a empregados formais, o SUS supera esse apartheid com a concepção da universalidade do direito a ambientes de trabalho saudáveis e seguros, para formais e informais”, observa.
Apesar dos muitos avanços nas últimas décadas, carimbados com a criação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), em 2012, a professora avalia o cenário atual com preocupação. Para ela, a configuração do mercado de trabalho hoje revela forte precarização de direitos, altos níveis de desemprego e a ausência de ambientes mais seguros e saudáveis, que impactam mais severamente os trabalhadores pobres e sem emprego formal. “Quero continuar estudando, mesmo na aposentadoria, esses trabalhadores informais, que representam hoje a maioria da força de trabalho do país e como o SUS pode continuar intensificando ainda mais o cuidado efetivo e integral a sua saúde e bem-estar”, conclui.
Perfil e outras conquistas
Vilma Santana é graduada em Medicina (1974) e mestra em Saúde Pública (1978) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Obteve o título de PhD em Epidemiologia pela University of North Carolina (1993), onde também realizou pós-doutorado em Epidemiologia Ocupacional (1998). Atualmente, é professora aposentada pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.
A pesquisadora atua na área de Epidemiologia da Saúde do Trabalhador, desenvolvendo pesquisas sobre determinantes da saúde no trabalho, acidentes de trabalho, trabalho da criança e do adolescente, emprego em serviços domésticos e na construção civil, avaliação de programas, custos com agravos ocupacionais à saúde, discriminação racial e segurança dos trabalhadores.
Segundo o ranking internacional AD Scientific Index 2021, divulgado em novembro do ano passado, Vilma Santana está na lista dos cientistas mais influentes da América Latina. O índice avalia a produtividade acadêmica de cientistas de diversas áreas, considerando o desempenho total e dos últimos cinco anos.
Em setembro de 2021, Vilma Santana também foi eleita membro da Academia de Ciências da Bahia (ACB). A professora passou a compor o grupo Ciências da Vida e foi escolhida pelas contribuições científicas ao longo de sua carreira e a relevância das pesquisas na área da Saúde do Trabalhador.
No mesmo ano, em maio, a pesquisadora tomou posse como membro titular da cadeira número 4 da Academia de Medicina da Bahia (AMB). “Minha contribuição será, sobretudo, continuar a lutar pela permanência do respeito ao legado científico, de valores e princípios que sustentam a ciência e as suas consequências, ontem, hoje e sempre”, disse em seu discurso de posse.
Leia, abaixo, a íntegra da nota de agradecimento, assinada pela professora Vilma Santana, sobre a homenagem do Ministério da Saúde:
Foi com surpresa e alegria imensas que recebi essa honraria, reconhecimento de minha participação na luta pela consolidação da importância do SUS na Saúde do Trabalhador. Esse reconhecimento é inegavelmente da minha casa, a Universidade Federal da Bahia, especificamente do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina e, do Instituto de Saúde Coletiva, onde atuo, aprendo, vivo e me fortaleço para o enfrentamento dos desafios que nos colocam a Saúde do Trabalhador.
Não posso deixar de mencionar a excelência do aprendizado possível com a colaboração com o Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador (CESAT) e da própria Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador, hoje ocupada por uma ex-aluna do Mestrado em Saúde Coletiva do ISC-UFBA, Flávia Ferreira Souza, que foi minha orientanda, o que deu um tom muito especial a esse reconhecimento. Meu sincero agradecimento vai também para Daniela Bosi Rohlfs, Diretora do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e da Vigilância em Emergências em Saúde Pública que assina o diploma.
Avanços na Saúde do Trabalhador e do seu protagonismo devem-se, sobretudo, à existência e relevância social do SUS, reconhecido como uma das mais importantes políticas sociais no mundo. Diferentemente de outros países, cuja rede de proteção e cuidado à saúde dos trabalhadores é restrita a empregados formais, o SUS supera esse apartheid com a concepção da universalidade do direito a ambientes de trabalho saudáveis e seguros, para formais e informais. A Política Nacional da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, de 2012, deu corpo a esse princípio, delineando estratégias e diretrizes. Seus avanços são notórios ao implementar uma vigilância em saúde do trabalhador, que supera a lógica do vigiar-punir, empenhando-se em ações pautadas no conhecimento, comunicação, diálogo, negociação e participação do trabalhador, articulando saberes, a ciência e a inovação tecnológica, na perspectiva da intra e intersetorialidade, transversalidade e interdisciplinaridade.
Estamos vivendo um momento de graves ameaças ao campo da Saúde do Trabalhador, em todo o mundo. Estão se reduzindo os direitos do trabalhador, dentre os quais o próprio direito ao emprego e trabalho decente e, em especial, aos ambientes de trabalho seguros e saudáveis. Isso vem afetando com maior intensidade os trabalhadores pobres, não registrados. O desemprego e a precarização crescem. Entretanto, arranjos colaborativos como os propostos por Paul Singer, de economia solidária, continuam incipientes apesar da necessidade imensa de seu fortalecimento. Quero continuar estudando, mesmo na aposentadoria, esses trabalhadores informais, que representam hoje a maioria da força de trabalho do país e como o SUS pode continuar intensificando ainda mais o cuidado efetivo e integral a sua saúde e bem-estar.
Vilma Santana, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA