Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A pandemia de Covid-19 impactou a saúde física e mental de estudantes universitários, afetando rotinas acadêmicas, vínculos sociais e hábitos de vida. É o que mostra um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e publicado recentemente na Revista Internacional de Educação Superior, periódico dedicado à produção científica sobre temas relacionados ao ensino acadêmico.

Conduzida por Vinicius Carvalho, doutorando do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA), sob orientação da professora Maria Thereza Coelho (IHAC/UFBA), a pesquisa aponta para sobrecarga no ensino remoto, solidão provocada pelo isolamento social e dificuldades para manter uma alimentação equilibrada ou praticar atividades físicas durante a crise sanitária.

Para chegar aos resultados, o estudo analisou a autoavaliação da saúde de 33 estudantes, com base em entrevistas realizadas entre novembro de 2021 e outubro de 2022. Os participantes eram estudantes dos bacharelados interdisciplinares em saúde, humanidades, artes e ciência e tecnologia da UFBA.

Entre os aspectos levantados, destacam-se os efeitos do ensino remoto emergencial, percebido como um fator de desgaste e de sofrimento mental, especialmente por conta da sobrecarga de atividades e pela ausência de contato interpessoal.

“Os estudos no ensino remoto foram cercados de preocupações quanto ao futuro e ocasionaram um impacto negativo na saúde, enquanto o retorno às atividades presenciais foi visto como positivo, quando pensado a partir da retomada do convívio social e da formação acadêmica em seu formato convencional”, explica Vinicius Carvalho, autor da pesquisa.

O estudo também investigou a percepção dos estudantes sobre a própria saúde. Para uma parte dos entrevistados, a saúde estava relacionada à ausência de sintomas ou doenças evidentes. Para outros, a autoavaliação da saúde envolvia um conjunto mais amplo de fatores, como qualidade do sono, alimentação, prática de exercícios físicos e bem-estar emocional.

As medidas de prevenção à Covid-19, como uso de máscaras e vacinação, também foram mencionadas positivamente pelos estudantes, embora o isolamento social tenha provocado efeitos ambíguos.

“Essas medidas foram, de modo geral, bem avaliadas pelos participantes. O uso de máscaras, por exemplo, foi associado à diminuição de sintomas de gripe e outras infecções respiratórias. Por outro lado, o isolamento social também foi delineado como uma medida prejudicial para o estado de saúde, dado que afastou as pessoas e reduziu o convívio social”, destaca o pesquisador.

Apesar das dificuldades enfrentadas, alguns estudantes relataram mudanças positivas, como maior atenção à alimentação e ao bem-estar físico. Em contrapartida, a falta de acesso a serviços de saúde, o sedentarismo e o sobrepeso foram fatores associados à avaliação negativa da própria saúde.

Segundo Vinicius Carvalho, a pesquisa evidencia a importância de políticas institucionais voltadas ao cuidado e à promoção da saúde no ambiente universitário. Além disso, sugere que estratégias permanentes de apoio à saúde mental e à qualidade de vida dos estudantes são fundamentais — especialmente em tempos de crise.

“Compreender o que as pessoas pensam sobre a própria saúde oferece subsídios para o cuidado e a educação qualificada em tempos de crises sanitárias. A saúde reitera a importância da produção do cuidado na vida acadêmica, demonstrando a relevância de investigar e endereçar estratégias coerentes com o desenvolvimento de ambientes favoráveis à aprendizagem”, conclui.

O estudo faz parte do projeto de pesquisa “Ensino Remoto na Pandemia Covid-19: Representações Sociais e Práticas de estudantes universitários”, coordenado pela professora Maria Thereza Coelho, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividade – SAVIS, cujos resultados têm sido divulgados na página do grupo (https://www.instagram.com/gp_savis/).

Para acessar o estudo completo, clique aqui.