Discutir novas tecnologias para prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer no Sul Global. Essa foi a proposta do workshop “The Social and Political Lives of New Cancer Technologies in the Global South”, realizado entre os dias 10 e 13 de junho, em Genebra, na Suíça. O evento reuniu historiadores, cientistas sociais, epidemiologistas e clínicos para explorar e questionar a inovação tecnológica, o que a torna possível e qual o seu impacto no cuidado do câncer e na sociedade.

O workshop contou com a participação do pesquisador Jorge Iriart, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, que abordou as iniquidades no acesso ao diagnóstico, tratamento e inovações biomédicas no cuidado do câncer no Brasil. Baseando-se em pesquisa etnográfica realizada em clínicas oncológicas públicas e privadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, Iriart examinou as desigualdades e conflitos éticos que surgem à medida que a oncologia de precisão é incorporada ao sistema de saúde brasileiro.

Segundo o professor, embora o Brasil possua o maior sistema de saúde universal do mundo, na prática, o sistema é fragmentado em subsistemas público e privado, com o subsistema público sofrendo um crítico subfinanciamento. Nesse contexto, velhas e novas iniquidades de saúde se entrelaçam, e o fenômeno da judicialização emerge como uma forma de acesso individual às tecnologias de alto custo. Iriart argumentou que o modelo atual de incorporação das tecnologias de medicina de precisão na oncologia no Brasil está contribuindo para o aumento das iniquidades de saúde.

Durante o workshop, os pesquisadores discutiram como tecnologias e inovações, desde CRISPR e inteligência artificial até vacinas contra o câncer e registros eletrônicos de pacientes, têm transformado a forma como entendemos e tratamos o câncer. Eles exploraram os aspectos sociais, políticos e econômicos dessas novas tecnologias no Sul Global, onde a prevenção, cuidado e vigilância do câncer são muitas vezes caracterizados por falta e improvisação, mas também onde avanços significativos estão sendo feitos.

O evento, organizado por pesquisadores do King’s College na Fondation Brocher, proporcionou um espaço para o compartilhamento e troca de diálogos e experiências. A expectativa é que essas discussões possam ser utilizadas por gestores de saúde e formuladores de políticas em países da Índia, África, Caribe e América Latina, garantindo que os desenvolvimentos tecnológicos e as infraestruturas necessárias para sua implementação sejam distribuídos de forma justa e equitativa.