Em comemoração ao mês da luta antimanicomial, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde Mental (NISAM) do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) organizou uma série de atividades científicas, culturais e de mobilização durante todo o mês de maio para sensibilizar a sociedade sobre a importância da desinstitucionalização e a promoção dos direitos na saúde mental.
O evento contou com a colaboração do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, parceiro na pesquisa “Sofrimento Psíquico e a Questão Social: da Revolução à Militância Colaborativa (Portugal e Brasil, 1970-2010)”. O estudo é liderado pelo pesquisador Tiago Pires Marques, sob coordenação brasileira da professora Mônica Nunes (ISC/UFBA).
Participaram das atividades dois membros da equipe portuguesa: Tiago Pires Marques e Mattia Faustine, além do consultor da pesquisa, o professor Emmanuel Dellile, do Centro de Arquivos em Filosofia, História e Edição das Ciências (CAPHÉS, École Normale Supérieure, Paris) e do Centro Marc Bloch (CMB, Universidade Humboldt, Berlim).
Confira, abaixo, algumas das principais iniciativas promovidas em colaboração com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Desinstitucionalização do Hospital de Custódia e Tratamento
Entre as principais atividades, destaque para a palestra sobre a desinstitucionalização do Hospital de Custódia e Tratamento, ministrada pela professora Mônica Nunes (ISC/UFBA), no dia 3 de maio, na sede do Tribunal da Justiça da Bahia. O evento fez parte de uma programação dedicada à resolução 487 de 2023 do Conselho Nacional de Justiça, que determina o fechamento dos Hospitais de Custódia e Tratamento (HCT) no Brasil.
Curso “Reinventar as práticas, as instituições e os direitos na saúde mental”
No âmbito da programação universitária, foi promovido, nos dias 06 e 07 de maio, no auditório do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA), o curso de formação avançada “Reinventar as práticas, as instituições e os direitos na saúde mental”.
A capacitação, realizada em parceria com a Associação Metamorfose Ambulante de Usuários e Familiares da Saúde Mental (AMEA), foi direcionada a usuários, profissionais de saúde mental, e estudantes de graduação e pós-graduação, abordando questões como “o que é uma pesquisa colaborativa?” e “quais são os efeitos desejados de uma pesquisa científica sobre saúde mental para a transformação da sociedade?”.
Utilizando uma metodologia inovadora, de caráter poético-estético e participativo, o curso facilitou discussões sobre direitos humanos na saúde mental, vozes e saberes experienciais, ativismo no campo da saúde mental, Reformas Psiquiátricas e as dimensões epistemológica, ontológica, ética e estética da saúde mental.
Saúde mental global
No dia 09 de maio, no auditório do ISC/UFBA, o professor Emmanuel Dellile (Centre Marc Bloch / Humboldt Universitãt, Berlim) proferiu uma conferência sobre a “Saúde mental global: uma investigação dos arquivos da OMS/Genebra”, destacando uma análise histórica e crítica sobre as produções das chamadas psiquiatrias transculturais em diversos continentes, com ênfase no continente africano. Sua abordagem utilizou uma perspectiva contracolonial como argumento central para a problematização.
O debate sobre o tema contou com a participação do pesquisador Maurice de Torrenté (ISC/UFBA), e Antônio Nery Filho, professor aposentado da UFBA. O evento contou ainda com a presença de Aladilce de Souza, ex-vereadora de Salvador.
O caso da Reforma Psiquiátrica Brasileira
Em outra etapa do evento, realizada em 10 de maio, no auditório do ISC/UFBA, uma mesa-redonda aberta ao público discutiu o tema “Experiências Emancipatórias em Saúde Mental: O Caso da Reforma Psiquiátrica Brasileira”.
A mesa contou com a participação dos pesquisadores Mônica Nunes (ISC/UFBA), Maurice Torrenté (ISC/UFBA), Tiago Marques (CES) e Mattia Faustine (CES), que apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre os aspectos da reforma portuguesa como pontos de comparação e problematização.
Assista, na íntegra, ao seminário “Experiências Emancipatórias em Saúde Mental: O Caso da Reforma Psiquiátrica Brasileira”, acessando o vídeo abaixo:
Por uma Bahia sem manicômios
O Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03), através da Comissão de Saúde (COMSAÚDE), promoveu no dia 10 de maio, no auditório do ISC/UFBA, o seminário “Memórias de Piatã: por uma Bahia sem manicômios”.
Durante a sessão, foram discutidos o papel de destaque da Bahia na Luta Antimanicomial e as perspectivas futuras para um estado livre de manicômios. O encontro fomentou diálogos entre usuários da RAPS, familiares, pesquisadores, profissionais e estudantes, gerando reflexões sobre várias questões. Entre elas, a preocupação com o crescimento das Comunidades Terapêuticas no estado, as perspectivas para a consolidação da desinstitucionalização e a importância da arte e da cultura para a saúde mental.
O evento contou com a presença do grupo “Os Insênicos” e de figuras-chave na reforma psiquiátrica brasileira, como a professora Ana Pitta. A organização do seminário teve a participação de Chaiane Santos, mestranda do ISC e membro da diretoria do CRP.
Assista, na íntegra, ao seminário “Memórias de Piatã: por uma Bahia sem manicômios”, acessando o vídeo abaixo:
Esquenta para a Parada do Orgulho Louco
Nos dias 13 e 15 de maio, a Casa GERAR de Economia Solidária em Saúde Mental sediou uma série de atividades culturais e de mobilização em preparação para a Parada do Orgulho Louco, denominadas “Esquenta”.
Facilitadas por Mattia Faustine e Renata Berenstein, as atividades incluíram oficinas de cartazes e outros artefatos, além de discussões sobre a Luta Antimanicomial, envolvendo usuários e profissionais de diversos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Salvador.
Além disso, foram realizadas rodas de conversa em dois CAPS, voltadas para mulheres usuárias, sob coordenação da terapeuta ocupacional Mabel Jansen, doutora pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM) da UFBA.
As discussões abordaram a perspectiva feminista no contexto da saúde mental, promovendo um espaço de troca e reflexão.
Festival de Arte em Saúde Mental
Por fim, no dia 29 de maio, foi realizado o Festival de Arte em Saúde Mental (FASM), no Espaço Xisto Bahia, que coroou as atividades do mês dedicado à luta antimanicomial. O evento contou com apresentações de vídeo, música, dança, teatro, poesia e outras manifestações artísticas, organizadas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
As atividades foram coordenadas pela psicóloga e diretora do grupo “Os Insênicos”, Renata Berenstein. “O teatro ficou repleto não apenas de usuários e profissionais de saúde dos CAPS, mas de familiares que vieram prestigiar o evento. Foi uma bela descoberta ver o que tem sido feito nos CAPS em termos artísticos, descobrir talentos, mas, sobretudo, garantir visibilidade e reconhecimento por essas atuações”, destaca a professora Mônica Nunes (ISC/UFBA).
Parada do Orgulho Louco
Esse conjunto de atividades promovidas durante todo o mês de maio recebeu uma excelente avaliação dos participantes, ganhando ecos em diversos espaços. Para os militantes, profissionais, estudantes e pesquisadores, os eventos contribuíram, inclusive, para ampliar a adesão à Parada do Orgulho Louco, realizada no dia 18 de maio, na Avenida Oceânica, na Barra.
“Houve uma participação mais significativa em relação à edição de 2023, bem como uma reativação da militância, com a incorporação de novos membros. Além disso, a metodologia colaborativa empregada na pesquisa ganhou maior robustez, gerando novas reflexões e conhecimentos”, destaca a professora Mônica Nunes (ISC/UFBA).
Documentário
Como forma de registrar e disseminar as atividades, está em fase de produção um vídeo documentando todas as ações realizadas durante o mês da luta antimanicomial. Sob a direção de Talbert Ígor, o audiovisual capturou as atividades realizadas dentro dos espaços do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, incluindo a Casa GERAR de Economia Solidária em Saúde Mental, além de outros locais externos ao ambiente universitário.