Pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) participaram da construção do Dossiê Temático Saúde da População Negra, publicado neste mês de março pela Revista Ciência & Saúde Coletiva, periódico de referência na área. A edição traz estudos que abordam as iniquidades étnico-raciais e estratégias de enfrentamento ao racismo na saúde.

O dossiê, elaborado com o apoio do Grupo Temático Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e financiado pelo Instituto Ibirapitanga, inclui cinco estudos com a participação direta de pesquisadores do ISC/UFBA. Os trabalhos oferecem uma visão abrangente sobre os desafios enfrentados pela população negra no acesso à saúde, destacando desde aspectos epidemiológicos até as consequências do racismo estrutural.

Entre os destaques da edição, o estudo “Associação entre iniquidades raciais e condição de saúde bucal: revisão sistemática” revelou uma condição desfavorável de saúde bucal entre indivíduos negros, refletida em uma maior prevalência de perda dentária, cáries e periodontite. O artigo contou com a participação dos pesquisadores Laila Araújo de Oliveira dos Reis (ISC/UFBA), Samilly Miranda (ISC/UFBA), Marcos Pereira (ISC/UFBA), Marcio Natividade (ISC/UFBA), Erika Aragão (ISC/UFBA), Tiago Prates (ISC/UFBA), Joilda Nery (ISC/UFBA) e Bruna Rebouças da Fonseca.

A pesquisa “Itinerários terapêuticos para cuidados em saúde bucal de adultos quilombolas de um distrito rural da Bahia, Brasil” realizou uma investigação sobre os caminhos percorridos pelos adultos quilombolas do município de Vitória da Conquista, em relação aos cuidados com a saúde bucal. O trabalho destacou uma marcante precariedade e lacunas significativas na higiene bucal vivenciada por esses indivíduos ao longo de suas vidas. O estudo foi conduzido pelos pesquisadores Ricardo de Almeida Souto (IMS UFBA), Joilda Silva Nery (ISC/UFBA), Etna Kaliane Pereira da Silva (UFOB), Lucelia Luiz Pereira (UnB) e Raquel Souzas (IMS/UFBA).

A pesquisa “Àgô Sankofa: um olhar sobre a trajetória da doença falciforme no Brasil nos últimos 20 anos” oferece uma análise crítica e detalhada da evolução das políticas de saúde relacionadas à doença falciforme, com um enfoque particular na influência do racismo institucional sobre as disparidades em saúde enfrentadas pelos afetados por essa condição. O estudo foi liderado pela professora Clarice Mota (ISC/UFBA), com a colaboração dos pesquisadores Altair dos Santos Lira (IHAC/UFBA), Maria Cândida Alencar de Queiroz (ESPS) e Márcia Pereira Alves dos Santos (FOUFRJ e ENSP/Fiocruz).

O artigo “Violência e vulnerabilização: o cotidiano de jovens negros e negras em periferias de duas capitais brasileiras”, de autoria de Maria Edna Bezerra Silva (ISC/UFBA), Leny Trad (ISC/UFBA) e Diana Anuciação (UFRB), traz uma contribuição fundamental ao debate sobre violência e racismo no Brasil. Por meio de uma abordagem quali-quantitativa, o estudo examina as experiências de violência simbólica e estrutural sofridas por jovens negros de 15 a 29 anos nas periferias de Recife e Fortaleza. Destacando a interseccionalidade de gênero, classe e raça, o estudo revela como o racismo institucional molda o cotidiano desses jovens, limitando seus projetos de vida e acesso a espaços sociais.

Por fim, o estudo “Disparidades raciais e étnicas em nascimentos prematuros entre mulheres grávidas na coorte NISAMI, Brasil” demonstrou uma prevalência significativamente maior de partos prematuros entre mulheres negras, sublinhando a necessidade de endereçar as desigualdades raciais e sociais na assistência à saúde materna a partir de dados do Núcleo de Investigação em Saúde Materno-infantil (NISAMI). A pesquisa é assinada pelos pesquisadores Kelly Albuquerque de Oliveira (NISAMI), Marcos Pereira (ISC/UFBA), Caroline Tianeze de Castro (ISC/UFBA), Rosa Cândida Cordeiro (UFRB), Denize de Almeida Ribeiro (UFRB), Maria da Conceição Costa Rivemales (UFRB), Edna Maria de Araújo (UFRB) e Djanilson Barbosa dos Santos (UFRB).

Todos os estudos apontam a importância da implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e a promoção de uma saúde equitativa, desafiando o racismo e suas manifestações no sistema de saúde brasileiro. A contribuição dos pesquisadores do ISC/UFBA para o dossiê reforça o papel crucial da pesquisa acadêmica na identificação e combate às iniquidades de saúde, direcionando esforços para uma transformação social significativa.

Para acessar o dossiê completo, clique aqui.