Como integrar arranjos e cooperações entre acadêmicos e ativistas trans para fortalecer a produção de conhecimento científico? Essa é uma das questões centrais do estudo “Cooperação academia-ativismo na pesquisa científica: proposições de uma ecologia das práticas”, publicado recentemente na Contemporânea, periódico científico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Assinado pelos pesquisadores Maycon Lopes (FFCH/UFBA), Luis Augusto Vasconcelos da Silva (IHAC/UFBA) e Inês Dourado (ISC/UFBA), o trabalho explora uma experiência inovadora que conecta a academia ao ativismo no desenvolvimento de pesquisas científicas.

O estudo é inspirado na perspectiva da ecologia das práticas e propõe que as relações entre pesquisadores e ativistas, em vez de ser apenas um estágio inicial, sejam continuamente moldadas ao longo do processo de pesquisa. A pesquisa baseou-se em observações realizadas através do projeto PopTrans, conduzido entre 2013 e 2016, em Salvador.

Trata-se de um estudo interdisciplinar que reuniu epidemiologistas e antropólogos para investigar modos de vida de travestis e mulheres trans, com foco em fatores associados à infecção por HIV/aids. Para coleta de dados, foram utilizadas notas de campo, grupos focais com lideranças trans e a técnica de amostragem Respondent-Driven Sampling (RDS), amplamente reconhecida por sua aplicabilidade em populações de difícil acesso.

A pesquisa aponta que a colaboração com o ativismo trouxe desafios e aprendizados, incluindo episódios de desconfiança e conflitos éticos. Contudo, esses momentos também abriram caminhos para uma prática científica mais responsiva às demandas sociais. A participação ativa de ativistas foi essencial para o sucesso da pesquisa, especialmente no recrutamento de participantes e na adaptação de métodos à realidade das comunidades trans.

A principal contribuição do estudo está na proposição de uma “ecologia das práticas”, que privilegia a coexistência de diferenças e rejeita modelos hierárquicos. Essa abordagem promove a construção de alianças baseadas em interesses divergentes, mas complementares, entre academia e movimentos sociais.

O artigo ressalta a importância de repensar a prática científica como um empreendimento ético e colaborativo. Ao reconhecer o papel central de ativistas como agentes de mobilização e diplomacia, os autores apontam para novos modelos de pesquisa mais inclusivos e comprometidos com a transformação social.

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