Investigar as implicações sociais da leishmaniose cutânea junto a comunidades endêmicas e promover intervenções para reduzir o estigma associado à doença por meio da educação comunitária. Essa é a proposta do ECLIPSE, projeto liderado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em parceria com a Universidade de Keele (Reino Unido). As experiências locais foram compartilhadas pela equipe do projeto na manhã de ontem (12), no 58º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop 2023).

Durante a participação na mesa-redonda “Educação, Comunicação e Informação em Leishmanioses”, a pesquisadora Clarice Mota, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, apresentou os objetivos, a metodologia, as estratégias e os principais desafios desde a implantação do estudo nas comunidades de Orobó/Valença, Corte de Pedra/Presidente Tancredo Neves, São Paulinho e Alto Alegre/Teolândia.

A professora destacou o caráter participativo da comunidade em todas as etapas do projeto. “A base do ECLIPSE é o engajamento comunitário. Isso representa a horizontalidade e parceria entre a universidade e a sociedade. Para nós, toda experiência com leishmaniose cutânea, seja de alguém que viveu ou de quem cuidou, é uma fonte geradora de conhecimentos e práticas de saúde”.

Na sessão, a jornalista Ana Flávia Nery, assessora de comunicação do ECLIPSE no Brasil, compartilhou ações e produtos de divulgação do projeto. Destaque para o podcast “Leishmania em 1 minuto”, uma série de 30 episódios informativos sobre a doença, com a participação de especialistas e membros da comunidade de estudo. Segundo a jornalista, a ideia é levar conhecimento às comunidades através de uma linguagem mais objetiva e acessível a todos.

“A comunicação no projeto ECLIPSE é formada por uma série de ações integradas junto com as comunidades no intuito de empoderá-las, em primeiro lugar, e também informar sobre a leishmaniose cutânea, ou seja, como ocorre a transmissão, tratamento e outras questões relacionadas”, explica a jornalista Ana Flávia Nery.

O estudo também foi responsável pela elaboração de um livro “Histórias de uma Terra da Pedra Cortada”, um compilado de relatos dos moradores da comunidade de Corte de Pedra, zona rural do município de Presidente Tancredo Neves, na Bahia. Há também o documentário “Orobó e o cinema delas”, realizado pelo “Coletivo de Mulheres Orobó das Belezas” da comunidade de Orobó – Valença (BA), com o acompanhamento da Equipe de Artes do Projeto ECLIPSE. Outro filme está sendo produzido pela própria comunidade com supervisão de membros do estudo.

Os próximos passos do projeto preveem a ampliação das ações de educação e comunicação produzidas pelo ECLIPSE Brasil desde o início do estudo, além de elaborar com e nas comunidades estratégias educacionais e comunicacionais que estimulem o diálogo entre os saberes prévios dos sujeitos e o conhecimento teórico-científico, tendo como fio condutor a leishmaniose cutânea.

A mesa-redonda “Educação, Comunicação e Informação em Leishmanioses” foi moderada pelo médico Paulo Machado (Hupes/UFBA) e contou ainda com a participação do pesquisador Eduardo de Castro Ferreira (Fiocruz/Mato Grosso do Sul), que apresentou o tema “Leishmanioses à luz da Saúde Única: promoção do controle por meio da educação e informação em saúde”.

Sobre o ECLIPSE

Além do Brasil, o ECLIPSE é realizado simultaneamente em outros três países: Etiópia, Sri Lanka e Reino Unido. O projeto é liderado pela parasitologista Dra. Helen Price e pela antropóloga e professora Lisa Dikomitis, da Universidade de Keele, no Reino Unido. No Brasil, o estudo é conduzido pelo médico Paulo Machado, coordenador do Serviço de Imunologia (SIM) do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/(UFBA), e pela professora Leny Trad (FA-SA/ISC-UFBA).

O projeto é financiado pelo National Institute for Health Research (NIHR) e reúne pesquisadores de diversas áreas como antropologia, medicina, parasitologia, psicologia, ciências sociais e artes. O objetivo é coletar dados, criar modelos de intervenção e capacitar as comunidades para lidar com os efeitos do estigma social causado pela leishmaniose.