[:pb]Ele aposta no conhecimento sobre a cultura como ferramenta para promover a igualdade na saúde global. Especialista e autor de diversas publicações sobre racismo e saúde, o professor Dr. Collins Airhihenbuwa, da Escola de Saúde Pública da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, realizou uma palestra no Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA na última quarta-feira (17). “Eu não quero trazer respostas, quero estimular perguntas”, anunciava à plateia formada por alunos e professores do Instituto, além de estudantes americanos visitantes.
Durante a palestra, Collins chamou a atenção para a necessidade de discutir o racismo no campo da saúde global. Para ele, o problema começa dentro das universidades, de maneira geral. “Os negros até conseguem entrar, inclusive através das cotas, mas não encontram nas universidades as discussões e os debates sobre as questões relevantes para as comunidades negras”.
A participação de Collins é resultado de um convênio firmado entre a Universidade Estadual da Geórgia (EUA) e a UFBA, que recebe, anualmente, estudantes intercambistas para uma série de atividades em Salvador. A palestra atende à política de ações afirmativas da UFBA, que tem promovido e acolhido debates sobre racismo e igualdade racial (veja mais nesta edição) e realizado ações de combate à discriminação e incentivo à permanência, para além da oferta de cotas para ingresso na graduação (desde 2004) e na pós-graduação e carreira docente (implementadas recentemente).
O professor observa que há um crescimento considerável da produção de conhecimento nos países do Sul, mas que esses autores não chegam aos grandes centros de discussões. “Eles não são lidos, não são convidados para eventos e, muito menos, fazem parte das referências dos cursos”. Segundo ele, é preciso buscar outras leituras e tomar consciência do racismo em todas as áreas. “Descolonizar é desfazer erros que cometemos no passado”, completa.
Collins, que é nigeriano, conhece de perto essa realidade. Para frequentar a escola, conta que precisava abrir mão da própria língua materna em seu país de origem. Quando foi para os Estados Unidos, aos 19 anos, reconheceu a profunda falta de representatividade da cultura africana durante toda a formação. “Eu sentia que precisava repensar e valorizar a minha cultura”, destaca.
O professor criticou a demora para se discutir o racismo no campo da saúde global, que só veio acontecer em 2001, durante a conferência de Durban, como ficou conhecida a Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância. O evento, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Durban, na África do Sul, tinha o objetivo de combater questões ligadas ao racismo e ao ódio a estrangeiros.
“Pedem para as pessoas mudarem a alimentação, por exemplo, mas não se examina o lugar. Onde essas pessoas moram? O que elas comem? Essa comida está acessível? Não adianta pedir um comportamento se os contextos não são alterados”, pondera.
Conexões com o Brasil
Entre as leituras recomendadas aos professores e estudantes presentes, está um autor muito próximo a nós: Paulo Freire. O filósofo e educador brasileiro é avaliado por Collins como o principal para se compreender a educação e a necessidade de uma consciência crítica. “Ele mostra que a educação precisa fazer sentido para as pessoas”, observa.
Referência de sincretismo e cultura afro-brasileira, a Igreja Rosário dos Pretos, localizada no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, também é considerada por Collins como um importante exemplo de construção da identidade que os baianos dão ao mundo. Ele visitou o local há poucos dias e ficou admirado pela história da igreja construída por escravos e membros de uma das primeiras irmandades de homens pretos do Brasil. “É um exemplo de como elaborar a própria narrativa, sem se submeter ao que contam sobre você ou sua comunidade”, conclui.
Através do Programa Integrado Comunidade, Família e Saúde do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA, que há dez anos desenvolve pesquisas sobre a relação entre racismo e saúde, os professores e alunos têm a oportunidade de discutir temas de grande interesse. Para a vice-coordenadora do programa, professora Clarice Mota, também responsável por mediar a palestra, o conhecimento de Collins é de grande importância para os estudiosos da saúde no Brasil, tanto no campo da produção teórica, como no ensino e na extensão. “Trata-se de um compromisso social importante, que nós, da Saúde Coletiva, devemos encarar como um dever no combate ao racismo em todas as nossas esferas de atuação”, avalia.[:en]He bets on knowledge about culture as a tool to promote equality in global health. Dr. Collins Airhihenbuwa, of the School of Public Health of the State University of Georgia, USA, gave a talk at the Institute of Collective Health (ISC) of the Federal University of Bahia ( UFBA) last Wednesday (17). “I do not want to bring answers, I want to stimulate questions,” he announced to the audience of students and professors at the Institute, as well as visiting American students.
During the lecture, Collins drew attention to the need to discuss racism in the field of global health. For him, the problem begins inside the universities. “Blacks can even enter, including through quotas, but they do not find in the universities discussions and debates about issues relevant to black communities.”
Collins’ participation is the result of an agreement signed between Georgia State University (U.S.A.) and UFBA, which annually receives exchange students for a range of activities in Salvador. The lecture complies with the affirmative action policy of UFBA, which has promoted and welcomed debates on racism and racial equality (see more in this issue) and carried out actions to combat discrimination and encourage permanence, in addition to offering quotas for entry into undergraduate programs. (since 2004) and postgraduate and teaching career (recently implemented).
The professor observes that there is a considerable growth of productions in the countries of the South, but that these authors do not reach the great centers of discussions. “They are not read, are not invited to events and, much less, are part of the course references.” According to him, it is necessary to seek other readings and become aware of racism in all areas. “Decolonizing is undoing mistakes we’ve made in the past,” he adds.
Collins, who is a Nigerian, knows this reality closely. To attend school, she said she needed to give up her own mother tongue in her home country. When he went to the United States at age 19, he recognized the profound lack of representativeness of African culture throughout the training. “I felt that I needed to rethink and value my culture,” he says.
The professor criticized the delay in discussing racism in the field of global health, which only came to pass in 2001 during the Durban conference, as the Third World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Forms of Intolerance. The event, promoted by the United Nations (UN) in Durban, South Africa, aimed at combating issues of racism and hatred of foreigners.
“They ask people to change their food, for example, but they do not examine the place. Where do these people live? What do they eat? Is this food affordable? It’s no use asking for behavior if the contexts are not changed, “he says.
Connections with Brazil
Among the readings recommended to teachers and students present, there is an author very close to us: Paulo Freire. The Brazilian philosopher and educator is evaluated by Collins as the main one to understand education and the need for a critical conscience. “It shows that education needs to make sense for people,” he notes.
A reference to syncretism and Afro-Brazilian culture, Rosário dos Pretos Church, located in Pelourinho, Historical Center of Salvador, is also considered by Collins as an important example of the construction of the identity that the Bahians give to the world. He visited the site a few days ago and was amazed by the history of the church built by slaves and members of one of the first black brotherhoods of Brazil. “It is an example of how to elaborate the narrative itself, without submitting to what they tell about you or your community,” he concludes.
Through the Integrated Community, Family and Health Program of the UFBA Institute of Collective Health (ISC), which for ten years has been conducting research on the relationship between racism and health, teachers and students have the opportunity to discuss topics of great interest. For the vice-coordinator of the program, Professor Clarice Mota, also responsible for mediating the lecture, Collins’s knowledge is of great importance to health scholars in Brazil, both in the field of theoretical production, teaching and extension. “This is an important social commitment, which we, from Collective Health, should regard as a duty to combat racism in all our spheres of activity,” he says.
[:es]Él apuesta al conocimiento sobre la cultura como una herramienta para promover la igualdad en la salud mundial. El Dr. Collins Airhihenbuwa, de la Escuela de Salud Pública de la Universidad Estatal de Georgia, EE. UU., Dio una charla en el Instituto de Salud Colectiva (ISC) de la Universidad Federal de Bahía ( UFBA) el miércoles pasado (17). “No quiero dar respuestas, quiero estimular preguntas”, anunció a la audiencia de estudiantes y profesores en el Instituto, así como a los estudiantes estadounidenses visitantes.
Durante la conferencia, Collins llamó la atención sobre la necesidad de discutir el racismo en el campo de la salud global. Para él, el problema comienza dentro de las universidades. “Los negros pueden incluso ingresar, incluso a través de cuotas, pero no se encuentran en las discusiones y debates de las universidades sobre temas relevantes para las comunidades negras”.
La participación de Collins es el resultado de un acuerdo firmado entre la Georgia State University (U.S.A.) y la UFBA, que anualmente recibe a estudiantes de intercambio para una serie de actividades en Salvador. La conferencia cumple con la política de acción afirmativa de la UFBA, que ha promovido y bienvenido los debates sobre el racismo y la igualdad racial (ver más en este tema) y ha llevado a cabo acciones para combatir la discriminación y fomentar la permanencia, además de ofrecer cuotas para ingresar a los programas de pregrado. (desde 2004) y postgrado y docente de carrera (recientemente implementado).
El profesor observa que hay un crecimiento considerable de producciones en los países del sur, pero que estos autores no llegan a los grandes centros de discusión. “No se leen, no se les invita a eventos y, mucho menos, son parte de las referencias del curso”. Según él, es necesario buscar otras lecturas y tomar conciencia del racismo en todas las áreas. “Descolonizar es deshacer errores que hemos cometido en el pasado”, agrega.
Collins, que es un nigeriano, conoce esta realidad de cerca. Para asistir a la escuela, ella dijo que necesitaba abandonar su propia lengua materna en su país de origen. Cuando viajó a los Estados Unidos a los 19 años, reconoció la profunda falta de representatividad de la cultura africana durante la capacitación. “Sentí que necesitaba repensar y valorar mi cultura”, dice.
El profesor criticó la demora para discutir el racismo en el campo de la salud mundial, que sólo aconteció en 2001, durante la conferencia de Durban, ya que se dio a conocer la Tercera Conferencia Mundial contra el Racismo, la Discriminación Racial, la Xenofobia y correlacionada de Intolerancia El evento, promovido por las Naciones Unidas (ONU) en Durban, Sudáfrica, tuvo como objetivo combatir los problemas de racismo y odio a los extranjeros.
“Piden a la gente que cambie su comida, por ejemplo, pero no examinan el lugar. ¿Dónde viven estas personas? ¿Qué comen? ¿Es esta comida asequible? No sirve de nada pedir comportamiento si los contextos no se cambian “, dice.
Conexiones con Brasil
Entre las lecturas recomendadas a profesores y alumnos presentes, hay un autor muy cercano a nosotros: Paulo Freire. Collins evalúa al filósofo y educador brasileño como el principal para comprender la educación y la necesidad de una conciencia crítica. “Esto demuestra que la educación debe tener sentido para las personas”, señala.
Como referencia para el sincretismo y la cultura afrobrasileña, la Iglesia Rosário dos Pretos, ubicada en Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, también es considerada por Collins como un importante ejemplo de la identidad que los bahianos le dan al mundo. Visitó el sitio hace unos días y quedó asombrado por la historia de la iglesia construida por esclavos y miembros de una de las primeras hermandades de hombres negros de Brasil. “Es un ejemplo de cómo elaborar su propia narrativa sin someterse a lo que dicen sobre usted o su comunidad”, concluye.
A través del Programa Integrado de la Comunidad, la Familia y la Salud del Instituto de Salud Colectiva de la UFBA (ISC), que durante diez años ha estado realizando investigaciones sobre la relación entre el racismo y la salud, los maestros y los estudiantes tienen la oportunidad de discutir temas de gran interés. Para la vice coordinadora del programa, la profesora Clarice Mota, también responsable de la mediación de la conferencia, el conocimiento de Collins es de gran importancia para los académicos de salud en Brasil, tanto en el campo de la producción teórica, la enseñanza y la extensión. “Este es un compromiso social importante, que nosotros, de Collective Health, debemos considerar como un deber para combatir el racismo en todas nuestras esferas de actividad”, dice.[:]