Autora: Ana Flávia Nery

Na última quarta-feira (2), o Congresso Interno do ISC promoveu o seu terceiro painel, intitulado “Saúde Coletiva Brasileira: Movimentos no Campo e nas Instituições”. A mesa reuniu nomes de destaque no campo da saúde coletiva e da reforma sanitária e promoveu um debate profundo sobre os desafios e caminhos futuros, destacando o compromisso com a democratização da saúde e a luta contra as desigualdades.

O painel contou com a mediação da professora Monique Esperidião, do ISC, e a participação de renomados especialistas: Rosana Onocko, da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO); Guilherme Loureiro Werneck, professor da UERJ e do ISC/UFRJ, e Lígia Maria Vieira da Silva, professora Emérita do ISC/UFBA.

Em sua fala, a professora Lígia Maria Vieira da Silva revisitou os marcos históricos sobre a relação entre a Saúde Coletiva e o Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA. Ela destacou a importância histórica do ISC na consolidação e no desenvolvimento da Saúde Coletiva no Brasil, mencionando sua influência na reforma sanitária e na criação de políticas de saúde pública.

Lígia também explorou o conceito de “campo social”, para explicar as disputas e articulações entre agentes e instituições no desenvolvimento do ISC e da Saúde Coletiva no Brasil. Segundo ela, o ISC se apresenta como uma instituição criativa, com liderança consensual, forte articulação interna e um compromisso ético com os princípios da reforma sanitária e da democratização da saúde.

Rosana Onocko também reforçou a relevância do ISC na construção da saúde coletiva no Brasil, destacando que sua importância vai além da pós-graduação e se reflete em diversas cooperações e formaçōes técnicas, bem como em sua contribuição para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela também trouxe à tona uma reflexão crítica sobre a desigualdade social no país, relacionando as análises do crítico literário Roberto Schwarz com as dinâmicas de classe no país.

Rosana propôs que as políticas públicas, incluindo as de saúde, precisam ser projetadas para promover maior inclusão e integração social no Brasil. Sua fala também expressou esperança nas novas gerações e na luta por políticas públicas que promovam inclusão e cidadania plena para todos, superando a segregação social histórica.

Por sua vez, Guilherme Werneck destacou a importância de uma epidemiologia comprometida com as necessidades sociais e políticas públicas que reduzam as iniquidades. Para ele, a epidemiologia não pode ser uma ciência isolada e tecnicista, mas precisa estar conectada às necessidades sociais, com compromisso com a mudança social, através de uma abordagem interdisciplinar, sublinhando a relevância de temas como gênero, raça, interseccionalidade e crise climática, que ainda têm pouca presença nas discussões epidemiológicas.

Werneck mencionou também a falta de preparação para a comunicação pública entre epidemiologistas, um problema evidenciado durante a pandemia. Pois, decisões em saúde pública não são tomadas apenas com base na ciência, mas também em outros fatores sociais e políticos, e que a comunicação das incertezas científicas deve ser melhorada.