“As meninas indígenas e negras têm o pior acesso tanto à saúde reprodutiva quanto ao atendimento pré-natal”. A declaração é da pesquisadora Dandara Ramos, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA), em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, na última segunda-feira (3). A reportagem é assinada pela jornalista Ana Bottallo e destaca dados preliminares de um estudo conduzido pela professora sobre gravidez e maternidade na adolescência.
Segundo a pesquisa, o racismo na sociedade brasileira para pessoas negras e indígenas é marcado antes mesmo do nascimento. Enquanto 64% das meninas brancas têm acesso adequado ao exame pré-natal, o índice cai para 50% entre as meninas negras e 30% para as indígenas. “Além do pré-natal, os indicadores de violência obstétrica para a população negra e indígena são elevadíssimos”, afirmou a professora à publicação.
Em relação aos casos de violência obstétrica, Dandara Ramos alerta para a indicação excessiva de cesáreas sem necessidade, refletido também nas diferentes raças. “Temos dados que mostram que, para a população negra, mesmo se a mulher já está com dilatação elevada, já perdeu o líquido, o bebê está em uma posição adequada, não é iniciado o processo para tentativa de parto normal, e os médicos preferem ir direto para o parto cesárea”, observou.
O estudo sobre gravidez na adolescência pretende traçar os impactos das políticas públicas em relação a diversos indicadores, se houve aumento ou queda de mães adolescentes de 2008 a 2019, além de avaliar a violência sexual sofrida por essas meninas, já que existe uma relação direta de violência nessa faixa etária com a maternidade precoce.
A publicação também destaca a carreira acadêmica de Dandara Ramos, as principais barreiras enfrentadas em sua trajetória enquanto mulher negra, e a dedicação a pesquisas voltadas ao racismo, pobreza e saúde infantil no país. “Esse momento tem sido de trabalho intenso de pesquisa e militância para não retroceder em relação aos indicadores de saúde da população negra”.
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