A cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) ajudou a reduzir em cerca de 32% a mortalidade por aids e em até 24% a incidência da doença entre brasileiros de baixa renda. Os resultados são de um estudo desenvolvido pelo DSAIDS (Determinantes Sociais do HIV/AIDS), projeto liderado por pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, em parceria com o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). O estudo foi publicado recentemente na PLOS Medicine, uma das revistas científicas mais renomadas em saúde pública no mundo.

A pesquisa analisou dados de 3,4 milhões de brasileiros de baixa renda, coletados entre 2007 e 2015. O estudo comparou municípios com baixa ou nenhuma cobertura da Estratégia Saúde da Família com aqueles que possuíam cobertura total da ESF. Para chegar aos resultados, foram considerados diversas variáveis, como sexo, idade, cor/raça, nível de escolaridade, renda per capita, e o tempo de recebimento do Programa Bolsa Família entre os moradores desses municípios.

A Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma política central do sistema de saúde brasileiro, que utiliza equipes multidisciplinares para oferecer cuidados de saúde abrangentes e continuados à população. Focada na expansão da Atenção Primária à Saúde (APS), a ESF promove desde a prevenção até o tratamento e reabilitação. As equipes, compostas por médicos e enfermeiros (preferencialmente especialistas em saúde da família), auxiliares ou técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, são responsáveis pela saúde de comunidades específicas, proporcionando cuidados integrados e personalizados à população.

Durante o período analisado, foram registrados 2.721 novos casos de aids, com uma incidência significativamente maior em municípios com baixa cobertura da ESF em comparação com aqueles com cobertura total. Nos municípios com baixa cobertura, a incidência foi de 25,57 casos por 100 mil habitantes por ano, enquanto nos municípios com cobertura completa da ESF, essa taxa foi de 13,21 por 100 mil habitantes. Em outras palavras, quase o dobro de pessoas desenvolveu a doença em áreas com menor presença da ESF.

Em relação às mortes, foram identificados 819 óbitos no total, com a taxa de mortalidade também maior entre aqueles que viviam em municípios sem cobertura plena da ESF. Nos municípios com baixa cobertura, a mortalidade foi de 8,28 mortes por 100 mil habitantes por ano, enquanto nas áreas com cobertura completa, a taxa foi de 3,88 mortes por 100 mil habitantes por ano. Isso evidencia o impacto positivo da ESF na redução tanto da incidência quanto da mortalidade por aids.

“O acesso a esse tipo de estratégia pode ajudar a promover o uso de preservativos e comportamentos sexuais mais seguros, aumentar a testagem do HIV, permitindo o diagnóstico precoce, o acesso e a adesão à terapia antirretroviral (TARV), por exemplo, reduzindo coinfecções, comorbidades e mortes por HIV/aids”, explica a pesquisadora Priscila Pinto (ISC/UFBA – Cidacs/Fiocruz Bahia).

Ainda segundo o levantamento, o impacto da ESF foi ainda mais expressivo entre pessoas com 35 anos ou mais, grupo no qual a incidência de aids caiu em 38% e a mortalidade em 44%. De acordo com os pesquisadores, esses resultados destacam a importância de uma cobertura universal em programas de Atenção Primária à Saúde (APS), como a Estratégia de Saúde da Família (ESF), para atingir as metas globais de saúde, incluindo o fim da epidemia de aids até 2030.

“Os nossos achados mostram que políticas como a Estratégia de Saúde da Família (ESF) podem reduzir, significativamente, a incidência e a mortalidade por aids nos países de baixa e média renda, e até mesmo diminuir as desigualdades relacionadas com a doença entre as populações mais vulneráveis”, conclui a pesquisadora.

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