Dificuldades de acesso a métodos contraceptivos, gravidez indesejada, complicações de aborto e aumentos dos riscos de mortalidade materna. Como a pandemia de covid-19 tem afetado a saúde das mulheres brasileiras e, especialmente, os aspectos reprodutivos? É o que pretende investigar um novo estudo realizado por pesquisadoras do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A pesquisa integra os projetos Gender & Covid-19, Observatório Fiocruz e o Nascer no Brasil 2, um dos maiores inquéritos nacionais sobre perdas fetais, partos e nascimentos ocorridos entre os anos de 2020 e 2021. A primeira etapa do estudo consiste na aplicação de um questionário on-line com perguntas relacionadas aos efeitos da pandemia na vida e na saúde das participantes. A expectativa da equipe é contar com a colaboração de cerca de 15 mil mulheres em um prazo de dois meses.
O formulário é direcionado a mulheres com 18 anos ou mais, sem limite de idade, residentes no Brasil. A participação é voluntária e as respostas são anônimas, para garantir a privacidade das participantes. O levantamento aborda desde o acesso aos serviços de saúde e ações preventivas, ao tratamento de doenças de mama e ginecológicas, incluindo as infecções sexualmente transmissíveis.
“Esperamos traçar um panorama dos efeitos globais da pandemia no Brasil sobre a saúde reprodutiva das mulheres, à luz do contexto atual das políticas públicas, e, ao mesmo tempo, mostrar a imensa diversidade desses efeitos, dependendo de muitos fatores, como classe social, raça/cor e etnia, região de residência das mulheres, entre outros marcadores sociais da diferença”, explica a professora Ana Paula Reis (ISC/UFBA), uma das coordenadoras do estudo.
Os primeiros resultados do levantamento devem ser divulgados nos próximos meses. Nas etapas seguintes, as pesquisadoras pretendem ampliar a investigação para outros aspectos na vida das mulheres e que também impactam sobre a saúde reprodutiva, a exemplo da situação do trabalho, a sobrecarga doméstica, os cuidados com a família, e questões relacionadas à própria saúde mental. “Temos a expectativa de aprofundar as questões que se destaquem, realizando um estudo qualitativo, com entrevistas individuais e grupos focais com as mulheres”, completa.
Ainda segundo a professora, um dos objetivos principais do estudo é dar visibilidade a grupos minoritários e a mulheres em situação de maior vulnerabilidade social. “A pandemia não é democrática e tem afetado de forma mais significativa essas mulheres. A partir dessas respostas, pretendemos contribuir para o aperfeiçoamento de políticas públicas que visam garantir os direitos das mulheres a uma assistência integral à saúde”, conclui.