Matéria publicada em 24 de março de 2020
Além da microcefalia, as crianças diagnosticadas com a síndrome congênita do zika vírus podem apresentar, simultaneamente, até cinco danos cerebrais agravantes para o desenvolvimento neuropsicológico. É o que aponta um estudo do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e publicado no International Journal of Developmental Neuroscience, periódico de referência da Associação Internacional da Neurociência do Desenvolvimento.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram dados fornecidos pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) do município de Salvador. No total, foram investigadas 136 crianças nascidas após o surto da zika, em 2015, e confirmadas para a síndrome congênita do zika vírus. De acordo com o levantamento, 19,1% delas foram diagnosticadas com microcefalia e 32,4% com microcefalia grave.
Além disso, metade da amostra (68 crianças) apresentou, ao mesmo tempo, entre três e cinco danos cerebrais diferentes. Segundo os pesquisadores, os danos mais comuns foram as calcificações cerebrais, presentes em 77,2 % dos casos, e a ventriculomegalia, que ocorreu em 57,4% das crianças investigadas. As calcificações são estruturas ósseas que se formam dentro do cérebro e comuns em casos de alterações congênitas. A ventriculomegalia é o aumento do tamanho dos ventrículos cerebrais, que pode gerar atrasos, principalmente, no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças.
“Os prejuízos mais frequentes incluem paralisia cerebral, epilepsia, deficiência intelectual, comprometimento da linguagem, dificuldade em engolir e anomalias dos sistemas visual e auditivo. Também destacamos os transtornos de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA) entre os distúrbios do desenvolvimento neurológico”, explica a pesquisadora Paula Sanders Pereira Pinto.
Segundo ela, o estudo é o primeiro a discutir dados do centro de vigilância municipal em relação ao desenvolvimento infantil das crianças nascidas durante o surto em Salvador. “O objetivo é caracterizar o espectro de danos cerebrais detectados pelo exame de neuroimagem de casos confirmados, verificar a existência de um padrão de combinação desses danos e discutir as possíveis implicações para o desenvolvimento neuropsicológico dessa geração”, destaca.
A pesquisa também avaliou o perfil das mães, número de pré-natais realizados durante a gravidez e o peso dos bebês no nascimento. De acordo com os dados, 85,3% das mães tinham entre 16 e 34 anos, 91,3% declararam-se negras e 60,6% das famílias vivem com menos de um salário mínimo por mês. Em relação aos bebês, 58% eram do sexo feminino, 28,6% foram prematuros e 36,3% apresentavam baixo peso ao nascer (inferior a 2,5 kg).
O estudo compõe a coorte do projeto “Desenvolvimento Infantil na Comunidade” (DICa), do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, que tem o objetivo de acompanhar o desenvolvimento das crianças nascidas durante o surto da zika, em 2015, no contexto da atenção básica.
Para a coordenadora do projeto, professora Darci Neves, o estudo é um alerta importante para a adoção de políticas públicas direcionadas a um acompanhamento do desenvolvimento infantil. “A existência de uma combinação de danos cerebrais tende a promover deficiências mais graves do que as encontradas quando ocorrem isoladamente. Assim, em qualquer dimensão do desenvolvimento, cuidados adequados precisam ser oferecidos, especialmente nos cinco primeiros anos de vida”, conclui.[:en]Article published on March 24, 2020
In addition to microcephaly, children diagnosed with congenital Zika virus syndrome can simultaneously show up to five brain damage aggravating neuropsychological development. This is what a study by the UFBA Institute of Collective Health points out and published in the International Journal of Developmental Neuroscience, a reference journal of the International Association for Development Neuroscience.
To arrive at the results, the researchers analyzed data provided by the Center for Strategic Information on Health Surveillance (CIEVS) in the city of Salvador. In total, 136 children born after the Zika outbreak in 2015 were investigated and confirmed for congenital Zika virus syndrome. According to the survey, 19.1% of them were diagnosed with microcephaly and 32.4% with severe microcephaly.
In addition, half of the sample (68 children) had between three and five different brain damage at the same time. According to the researchers, the most common damages were brain calcifications, present in 77.2% of the cases, and ventriculomegaly, which occurred in 57.4% of the children investigated. Calcifications are bony structures that form inside the brain and are common in cases of congenital changes. Ventriculomegaly is an increase in the size of the cerebral ventricles, which can cause delays, mainly in the motor and cognitive development of children.
“The most frequent impairments include cerebral palsy, epilepsy, intellectual disability, impaired language, difficulty in swallowing and anomalies in the visual and auditory systems. We also highlight attention deficit / hyperactivity disorders (ADHD) and autism spectrum disorder (ASD) among neurological development disorders ”, explains researcher Paula Sanders Pereira Pinto.
According to her, the study is the first to discuss data from the municipal surveillance center regarding the child development of children born during the outbreak in Salvador. “The objective is to characterize the spectrum of brain damage detected by the neuroimaging examination of confirmed cases, to verify the existence of a pattern of combining these damages and to discuss the possible implications for the neuropsychological development of this generation”, she highlights.
The survey also assessed the profile of mothers, the number of prenatal care performed during pregnancy and the weight of babies at birth. According to the data, 85.3% of mothers were between 16 and 34 years old, 91.3% declared themselves black and 60.6% of families live on less than one minimum wage per month. Regarding babies, 58% were female, 28.6% were premature and 36.3% had low birth weight (less than 2.5 kg).
The study is part of the cohort of the project “Child Development in the Community” (DICa), from the UFBA Institute of Collective Health, which aims to monitor the development of children born during the Zika outbreak in 2015, in the context of primary care .
For the project coordinator, professor Darci Neves, the study is an important alert for the adoption of public policies aimed at monitoring child development. “The existence of a combination of brain damage tends to promote deficiencies more serious than those found when they occur in isolation. Thus, in any dimension of development, adequate care needs to be offered, especially in the first five years of life ”, she concludes.[:es]Artículo publicado el 24 de marzo de 2020
Además de la microcefalia, los niños diagnosticados con el síndrome congénito del virus del Zika pueden mostrar simultáneamente hasta cinco daños cerebrales que agravan el desarrollo neuropsicológico. Esto es lo que señala un estudio del Instituto de Salud Colectiva de la UFBA y publicado en la Revista Internacional de Neurociencia del Desarrollo, una revista de referencia de la Asociación Internacional para la Neurociencia del Desarrollo.
Para llegar a los resultados, los investigadores analizaron los datos proporcionados por el Centro de Información Estratégica sobre Vigilancia Sanitaria (CIEVS) en la ciudad de Salvador. En total, 136 niños nacidos después del brote de Zika en 2015 fueron investigados y confirmados por síndrome congénito del virus del Zika. Según la encuesta, el 19.1% de ellos fueron diagnosticados con microcefalia y el 32.4% con microcefalia severa.
Además, la mitad de la muestra (68 niños) tenía entre tres y cinco daños cerebrales diferentes al mismo tiempo. Según los investigadores, los daños más comunes fueron calcificaciones cerebrales, presentes en el 77.2% de los casos, y ventriculomegalia, que ocurrieron en el 57.4% de los niños investigados. Las calcificaciones son estructuras óseas que se forman dentro del cerebro y son comunes en casos de cambios congénitos. La ventriculomegalia es un aumento en el tamaño de los ventrículos cerebrales, que puede causar retrasos, principalmente en el desarrollo motor y cognitivo de los niños.
“Los impedimentos más frecuentes incluyen parálisis cerebral, epilepsia, discapacidad intelectual, lenguaje alterado, dificultad para tragar y anomalías en los sistemas visual y auditivo. También destacamos los trastornos por déficit de atención / hiperactividad (TDAH) y el trastorno del espectro autista (TEA) entre los trastornos del desarrollo neurológico ”, explica la investigadora Paula Sanders Pereira Pinto.
Según ella, el estudio es el primero en analizar los datos del centro de vigilancia municipal sobre el desarrollo infantil de los niños nacidos durante el brote en Salvador. «El objetivo es caracterizar el espectro del daño cerebral detectado por el examen de neuroimagen de casos confirmados, verificar la existencia de un patrón de combinación de estos daños y discutir las posibles implicaciones para el desarrollo neuropsicológico de esta generación», destaca.
La encuesta también evaluó el perfil de las madres, la cantidad de atención prenatal realizada durante el embarazo y el peso de los bebés al nacer. Según los datos, el 85,3% de las madres tenían entre 16 y 34 años, el 91,3% se declararon negras y el 60,6% de las familias viven con menos de un salario mínimo por mes. Con respecto a los bebés, 58% eran mujeres, 28.6% eran prematuros y 36.3% tenían bajo peso al nacer (menos de 2.5 kg).
El estudio es parte de la cohorte del proyecto «Desarrollo infantil en la comunidad» (DICa), del Instituto de Salud Colectiva de la UFBA, cuyo objetivo es monitorear el desarrollo de los niños nacidos durante el brote de Zika en 2015, en el contexto de la atención primaria.
Para el coordinador del proyecto, el profesor Darci Neves, el estudio es una alerta importante para la adopción de políticas públicas destinadas a monitorear el desarrollo infantil. «La existencia de una combinación de daño cerebral tiende a promover deficiencias más graves que las que se encuentran cuando ocurren de forma aislada. Por lo tanto, en cualquier dimensión del desarrollo, se debe ofrecer una atención adecuada, especialmente en los primeros cinco años de vida ”, concluye.