O enfrentamento da Monkeypox – varíola dos macacos – é marcado no Brasil pela falta de estrutura laboratorial para diagnóstico rápido, dificuldades de isolamento de contatos em tempo oportuno, além de um sistema de informação em saúde lento e sem transparência. A análise é de um grupo de epidemiologistas de seis instituições de ensino do país, entre as quais a Universidade Federal da Bahia (UFBA), em artigo preprint publicado na última segunda-feira (1) na Revista Brasileira de Epidemiologia.
“A publicação é uma iniciativa da coordenação da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) diante da inércia das autoridades de saúde locais em conhecer e controlar o problema de forma oportuna e em bases científicas. Já vimos isso com a chegada da Covid-19 e não queremos que se repita”, explica a pesquisadora Sheila Alvim, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e membro da comissão da Abrasco. O grupo conta ainda com a participação do professor e pesquisador Marcos Pereira (ISC/UFBA).
Diante do atual cenário, os epidemiologistas sugerem uma série de ações, como a definição de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde, implementação de um sistema de informação unificado para registro dos casos confirmados e suspeitos, assim como a ampliação de recursos para estruturação, qualificação e descentralização dos serviços de vigilância epidemiológica e laboratorial.
Atualmente, o diagnóstico laboratorial do Monkeypox é realizado em apenas 4 laboratórios de referência na região sudeste, o que dificulta a identificação dos casos em tempo hábil, principalmente em localidades historicamente negligenciadas, a exemplo da Amazônia Brasileira. “A publicação traz ainda um alerta importante sobre o perigo da inadequação da nomenclatura utilizada pela OMS para a doença”, destaca a professora Sheila Alvim.
Os pesquisadores também chamam a atenção para a importância de campanhas e ações de comunicação sobre a doença destinadas à população, planejamento e avaliação contínua das medidas de prevenção, maior proatividade do Ministério da Saúde para aprovação e aquisição de medicamentos, além de investimento em pesquisa para o diagnóstico epidemiológico, monitoramento e impactos sociais.
“As lições da pandemia de Covid-19 não podem ser negligenciadas e tampouco cometidos os mesmos erros, nem no nível nacional e nem no nível internacional. Garantir o acesso igualitário aos recursos disponíveis para o enfrentamento da doença é indispensável diante de mais uma emergência de saúde pública de doença transmissível”, concluem os autores na publicação. Para acessar o artigo completo, clique aqui.