“É preciso democratizar a saúde a partir de um modelo de desenvolvimento sustentável”. É com um olhar crítico e baseado em valores como solidariedade, cooperação e equidade, que a pesquisadora Mariana Pitta, doutoranda do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, enxerga o futuro da Medicina Social. O ensaio sobre o tema rendeu à pesquisadora um prêmio da Global Social Medicine Network, uma rede de acadêmicos voltada a debater estratégias no campo da Medicina Social em todo o mundo.

O texto assinado pela sanitarista do ISC/UFBA é inspirado em teóricos e pesquisadores da área da Saúde Coletiva no Brasil e na América latina, com o objetivo de explorar as possibilidades e desafios para o futuro da Medicina Social em escala global. “Temos um desenvolvimento teórico e metodológico do campo da Saúde Coletiva bastante avançado, que pode nos ensinar lições importantes para enfrentar esses desafios”, explica Mariana Pitta.

A Medicina Social busca compreender como as condições sociais e econômicas afetam a saúde e a prática da medicina, promovendo reflexões sobre as condições necessárias para uma sociedade mais saudável. Para a pesquisadora, o futuro do campo deve estar focado em investigar e revelar como ‘o social’ se expressa na saúde das populações, principalmente em contextos de profundas desigualdades, a exemplo do cenário brasileiro. “Precisamos compreender melhor questões como a democratização da saúde em contextos locais e globais, as complexas relações entre setores públicos e privados, o financiamento de sistemas universais em um contexto neoliberal, a compreensão da saúde como mercadoria e o desenvolvimento da consciência sanitária”, avalia.

O ensaio também buscou atender às provocações suscitadas pelo 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Abrascão 2022, que este ano pretende discutir o tema “Saúde é democracia: diversidade, equidade e justiça social”, além de fomentar as reflexões desencadeadas pela própria experiência adquirida pela pesquisadora durante o trabalho de campo para a sua tese de doutorado.

Orientado pelas professoras Cecilia Anne McCallum e Greice Maria de Souza Menezes, o estudo consiste numa investigação etnográfica sobre aborto em uma maternidade pública brasileira. “Os meus argumentos baseiam-se nas contradições de um sistema de saúde universal imerso, dentro de um contexto de profundas desigualdades econômicas, de gênero e de raça”, destaca Mariana Pitta.

O concurso de ensaios da Global Social Medicine Network contou com a participação de estudantes de diversos programas de pós-graduação da área da saúde em todo o mundo, que produziram textos a partir do tema “O Futuro da Medicina Social”. Além de um prêmio em dinheiro, os cinco pesquisadores premiados também devem ter os ensaios publicados em periódico específico da Global Social Medicine Network até o final do ano.

“Fiquei muito feliz em poder sintetizar contribuições de pesquisadores e pesquisadoras, sanitaristas brasileiros/as e latino-americanos/as, que considero um pensamento crítico e complexo, e que também é a minha escola de formação – o campo da saúde coletiva brasileira”, comemora. Para a pesquisadora, o concurso é mais uma oportunidade de compartilhar internacionalmente o conhecimento produzido pelas universidades públicas brasileiras. “O nosso campo oferece importantes contribuições para o diálogo científico com produções de outros países, sobretudo estando no nordeste do Brasil”, conclui.