O segundo dia do Simpósio Teoria Crítica da Saúde Digital, realizado nesta terça-feira (12) em Itaparica, aprofundou as discussões sobre as interseções entre ciência, tecnologia e sociedade, sob a ótica das teorias críticas e do pensamento latino-americano. Os painéis destacaram como os processos de digitalização estão ligados à soberania tecnológica, à desigualdade e à autonomia dos sujeitos no contexto da saúde pública.

No painel “Ciência, Tecnologia e Sociedade: aportes críticos do Norte global”, o professor Luis Eugenio de Souza (ISC/UFBA) refletiu sobre a democratização da tecnologia e seu papel no fortalecimento do SUS. “A tecnologia deve estar a serviço da sociedade e não dos interesses empresariais. Como tendência não é destino, temos a opção de lutar”, destacou. Já Ricardo Neder (UnB) abordou o papel das teorias críticas na compreensão das transformações digitais, enfatizando a importância de promover a emancipação humana e o controle social sobre as tecnologias emergentes.

O segundo painel da manhã, “Pensamento latino-americano sobre tecnociências: do PLACTS a Juan Samaja”, reuniu Renato Dagnino (Unicamp) e Roxana Ynoub (UBA/ARG). Dagnino destacou as contribuições do Pensamento Latino-Americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PLACTS), defendendo um modelo de tecnociência orientado pelas demandas sociais e não pelo mercado. Ynoub trouxe uma leitura crítica sobre a dependência tecnológica das nações periféricas e alertou para o risco de desumanização das relações de cuidado quando mediadas exclusivamente por tecnologias digitais.

À tarde, o debate continuou com o painel “Teorias da técnica/tecnologia no cenário brasileiro”, que reuniu Deivison Faustino (FSP/SP), Marcos Dantas (UFRJ) e Erika Aragão (ISC/UFBA). Faustino abordou o conceito de “rugosidade colonial”, de Milton Santos, para discutir como a infraestrutura tecnológica global reproduz desigualdades históricas. Dantas apresentou a crítica dialética da tecnologia proposta por Álvaro Vieira Pinto, destacando o caráter social e político das inovações. Já Erika Aragão refletiu sobre a teoria da dependência de Theotônio dos Santos, ressaltando a necessidade de construir autonomia tecnológica nos países periféricos.

Encerrando o dia, o painel “Teorias críticas sobre tecnologias em saúde” trouxe as contribuições de Lilia Schraiber (FM/USP), Dina Czeresnia (Fiocruz/RJ) e Luiz Vianna Sobrinho (ENSP/Fiocruz). Schraiber discutiu as tensões entre a autonomia médica e o avanço tecnológico, enquanto Czeresnia criticou o modelo biomédico hegemônico e defendeu uma saúde digital humanizada. Vianna Sobrinho destacou a “medicina de dados” como uma nova fronteira que exige vigilância ética e compromisso social.

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