[:pb]O protagonismo das áreas médica e biológica no enfrentamento da pandemia de covid-19 tem evidenciado a ausência de porta-vozes de outros campos, especialmente das ciências sociais e humanas, e o consequente empobrecimento sobre o debate público de como mitigar o impacto sobre a sociedade. É o que apontam os especialistas ouvidos pela reportagem “A falta de voz do povo de humanas”, publicada pelo jornal Valor Econômico no dia 14 de agosto.
Na reportagem, a psiquiatra Mônica Nunes, professora do Instituto de Saúde Coletiva e membro da comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), destacou a luta interna nos diversos campos do saber e a dificuldade para dar visibilidade aos temas e subtemas de pesquisa em ciências sociais em saúde. “A ausência do discurso dos cientistas sociais em saúde nos meios de comunicação, nas redes sociais, revela um grande incômodo em escutar aspectos que vão descortinar elementos não muito agradáveis”, disse a professora à publicação.
Como exemplo da importância das ciências humanas para o debate público, ela apontou o papel do campo na construção de políticas públicas que fizeram do Brasil referência internacional no combate ao HIV/aids. “Houve um período fortemente caracterizado pela estigmatização dos homossexuais, uma visão moralista e moralizante que só atrapalhava. Mas tivemos contribuições fenomenais com a visão de que, se você não enxerga a forma limitada de enxergar as relações entre o humano e o biológico, não consegue fazer as pessoas aderirem às prescrições necessárias. Hoje, vivemos um negacionismo tão forte que precisamos muito desse bom combate”.
Para a professora, os pesquisadores em ciências sociais humanas devem buscar outros espaços de diálogo e atuação através de articulações diretas com a sociedade civil organizada e movimentos sociais. “Essa ideia de ‘academia torre de marfim’ não dá, precisa ser superada. Estamos em um momento de ecologia dos saberes, como diz Boaventura de Souza Santos”, afirmou em referência ao diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
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