Texto de Murillo Guerra / Ascom – UFBA (adaptado)
O documentário “Sonia e Zilton: ciência, saúde e amor” aborda a história do casal Sonia Gumes Andrade e Zilton de Araújo Andrade – professores eméritos da UFBA e pesquisadores eméritos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O filme tem direção de Ulla Macedo, servidora da Fiocruz, egressa do BI de Artes/Cinema da UFBA e doutoranda em Saúde Coletiva do ISC/UFBA.
A longeva trajetória dos pesquisadores é o fio condutor para contar a história do próprio Instituto Gonçalo Moniz (IGM), que teve Dr. Zilton como seu primeiro diretor, de 1980 a 1989. O casal integrou o IGM desde a fundação do então Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), momento em que a instituição se tornou uma unidade da Fiocruz. Foram mais de 4 décadas dedicadas ao trabalho na Fiocruz, contribuição fundamental para a consolidação do IGM.
Além da atuação profissional socialmente relevante, o documentário valoriza aspectos biográficos, através do destaque dado aos depoimentos dos filhos do casal: Marusia, Carlos e Ivan. Outras pessoas também ajudaram a contar esta história a partir de entrevistas gravadas especialmente para o filme. Foram utilizados, ainda, acervos pessoais (fotos e vídeos raros), bem como imagens de arquivos do IGM, da TVE, da TVUFBA e trechos de outros documentários e vídeos que compuseram a extensa pesquisa que embasou a construção do roteiro.
Segundo a diretora do filme, Ulla Macedo, a realização de um documentário sobre a trajetória do casal Andrade, inevitavelmente, conta também a história da Fiocruz Bahia. “Pude mergulhar na história deles nesse processo todo, que começou em maio de 2020”, referindo-se ao início das pesquisas do filme, cuja realização seguiu todos os protocolos sanitários recomendados pela OMS. “Foi muito apaixonante conhecê-los, eles são exemplos para a vida, exemplo de compromisso social, dedicação ao trabalho, exemplos de ética e amor”.
A trajetória dedicada à saúde pública
Membros da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, de Patologia, de Parasitologia, entre outras, os pesquisadores publicaram inúmeros trabalhos científicos ao longo da carreira. Dra. Sonia e Dr. Zilton integram a lista dos/as 100 mil cientistas mais influentes do mundo [veja a lista]. O reconhecimento de ambos se revela na quantidade de prêmios, títulos e homenagens que receberam ao longo da vida. Recentemente, em 2021, Dra. Sonia foi agraciada com a medalha de Mérito Científico Carlos Chagas, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Entre os títulos de Dr. Zilton estão a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (1995) e a Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2005), recebidos das mãos de presidentes brasileiros.
O documentário é uma realização do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), através do edital interno de memória institucional da Casa de Oswaldo Cruz. A instituição vem trabalhando em parceria com a UFBA para a preservação do acervo físico do casal, que inclui material biológico de pesquisa, documento de projetos, objetos tridimensionais (como microscópios antigos), fotografias, teses de alunos, cartas, etc. O documentário é mais uma ação que reforça a importância desta iniciativa.
O casal Andrade e a UFBA
Dra. Sonia e Dr. Zilton se formaram na Faculdade de Medicina da Bahia. São inúmeras as suas contribuições para a UFBA. Em 1957, Dr. Zilton recebeu convite do Reitor Edgard Santos para chefiar a área de anatomia patológica do Hupes. Foi também no Hospital Universitário que Dra. Sonia se aproximou da patologia, realizando, incialmente, atividades discentes no Hospital das Clínicas como estagiária (1950-1951) e interna por concurso (1952-1953) na 2ª Cadeira de Clínica Médica.
Dr. Zilton lecionou entre 1953 e 1984 na Faculdade de Medicina da UFBA, onde alcançou os títulos de Professor Titular e de Professor Emérito. Já Dra. Sonia atuou como professora adjunta na UFBA entre 1967 e 1995, onde também recebeu o título de Emérita. Além de estruturarem a Residência Médica em Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina, criaram, em 1973, o Programa de Pós-Graduação em Patologia Humana (parceria UFBA-Fiocruz Bahia), que começou com mestrado, ampliando para o doutorado na década seguinte. Dra. Sonia foi a primeira coordenadora deste programa e atuou nesta função por 20 anos.
Dr. Zilton Andrade faleceu em 2020, aos 96 anos.