Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), investigou o acesso dos adolescentes brasileiros aos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS) no país. Com uma amostra de quase 69 mil jovens, os resultados revelaram que 74,6% dos adolescentes que procuraram esses serviços, no período analisado, conseguiram acesso. A proporção foi ainda maior entre os indivíduos do sexo feminino (79,3%). Além disso, constatou-se que adolescentes em situação de vulnerabilidade enfrentaram maiores dificuldades para acessar os cuidados básicos de saúde.
O estudo, publicado recentemente na revista Ciência & Saúde Coletiva, é resultado da tese de doutorado da pesquisadora Maísa Martins, defendida em setembro de 2022, através do Programa de Pós-graduação do ISC/UFBA, sob orientação da professora Rosana Aquino. O artigo também recebeu contribuições das pesquisadoras Nília Prado e Ana Luiza Vilasbôas.
O principal objetivo da pesquisa consistiu em analisar como o reconhecimento de uma fonte usual de cuidado na Atenção Primária à Saúde (APS) pode impactar o acesso aos serviços entre adolescentes brasileiros. A fonte usual de cuidado refere-se a um serviço ou profissional de saúde que as pessoas utilizam regularmente para atender às suas necessidades de saúde. Segundo as pesquisadoras, ter esse reconhecimento facilita o acesso rápido à atenção médica, permite ações de prevenção e promoção da saúde e favorece cuidados mais justos para todos.
A investigação utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015, que envolveu adolescentes do 9º ano de escolas públicas e privadas em todo o Brasil. A amostragem por conglomerados incluiu 68.968 adolescentes e a coleta de dados foi realizada entre abril e setembro de 2015.
Através de uma análise multivariada, o estudo mostrou que reconhecer uma fonte usual de cuidado aumentou em 25% o acesso dos adolescentes aos serviços de APS. Esse aumento foi observado em ambos os sexos, com as chances de acesso ampliadas em 30% para os meninos e 21% para as meninas que tinham um profissional ou serviço de saúde regular reconhecidos. No entanto, a falta de acesso foi mais frequente entre adolescentes economicamente vulneráveis e aqueles com comportamentos de risco, como uso de substâncias psicoativas e envolvimento em situações de violência.
Os resultados indicam que, apesar de números positivos, ainda existem desigualdades no acesso aos serviços de APS. Adolescentes com mães de menor nível educacional e aqueles pertencentes a minorias raciais enfrentam maiores barreiras para acessar os serviços de saúde. Além disso, a pesquisa revelou que adolescentes que iniciaram a vida sexual e não usaram preservativos, bem como aqueles que enfrentaram situações de violência ou usaram substâncias psicoativas, tiveram menores proporções de acesso aos serviços de APS.
Para Maísa Martins, o estudo ressalta a importância de uma Atenção Primária à Saúde (APS) mais eficaz para reduzir essas desigualdades. “Esta pesquisa evidenciou que adolescentes brasileiros que têm a APS como sua fonte usual de cuidado conseguiram acessar os serviços de atenção primária. Entretanto, a falta de acesso foi mais frequente entre os mais vulneráveis economicamente e que apresentavam comportamentos de risco, indicando iniquidades potencialmente evitáveis se houvesse uma APS mais efetiva, acolhedora e longitudinal”, conclui a pesquisadora.
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