Gestantes sem acompanhamento pré-natal adequado e não vacinadas contra a Covid-19 apresentaram maior risco de complicações obstétricas e perinatais durante a pandemia. A evidência é apontada na tese desenvolvida por Rita Carvalho Sauer, egressa do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. O trabalho recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2025, na área de Saúde Coletiva, distinção que também se estende à orientadora, professora Maria da Conceição Nascimento Costa, e à coorientadora, professora Enny Santos da Paixão.

“Foi uma grande alegria, um reconhecimento que eu compartilho com todos os professores e colegas que me apoiaram e me acompanharam nessa trajetória. Acredito, ainda, que representa o fortalecimento da produção científica comprometida com a saúde pública, com um olhar especial para a população materno-infantil, em contextos de crise sanitária”, comemora a pesquisadora Rita Carvalho Sauer.

Na avaliação da sua orientadora, professora Maria da Conceição Costa, a decisão do comitê da Capes reflete justamente a força e a relevância do trabalho realizado. “É um reconhecimento da excelência acadêmica da doutoranda e também do ISC/UFBA, por evidenciar o quanto esta instituição está antenada com os problemas de saúde que atingem a população e a sua contribuição para produção de conhecimento científico capaz de subsidiar o desenvolvimento de estratégias voltadas para melhoria da saúde da população”, destaca a professora.

Cinco estudos para revelar os efeitos da pandemia na gestação

A pesquisa “Covid-19 na gestação: desfechos obstétricos e perinatais adversos em uma coorte de base populacional no Brasil” reuniu um conjunto de cinco estudos, articulados para compreender de maneira abrangente os efeitos da pandemia sobre a saúde materno-infantil.

Em diferentes recortes, a tese investigou desde a evolução da razão de mortalidade materna na Bahia até indicadores nacionais de saúde perinatal, além de avaliar o risco de morte fetal associado à síndrome respiratória aguda grave (SRAG), a letalidade da Covid-19 entre gestantes e o impacto de fatores como assistência pré-natal e vacinação sobre a mortalidade materna.

Os resultados revelaram que, já no primeiro ano da pandemia, a razão de mortalidade materna na Bahia foi quase 60% maior do que o esperado, acompanhando a escalada da Covid-19 no estado. Em nível nacional, houve aumento imediato da mortalidade materna e perinatal, além de tendências ascendentes nos partos cesáreos e na prematuridade, com sinais de melhora apenas após o início da vacinação de gestantes.

Outro achado importante foi a constatação de que mulheres com síndrome respiratória aguda grave durante a gestação tiveram até quatro vezes mais risco de morte fetal, risco que se elevava ainda mais diante de complicações como parto vaginal, internação em UTI ou uso de ventilação mecânica. A tese também mostrou que a letalidade da Covid-19 entre gestantes alcançou 2,2% na Bahia, sendo maior entre mulheres não vacinadas, com baixa escolaridade ou acompanhamento pré-natal insuficiente.

Por fim, ficou evidente que tanto a infecção pelo coronavírus quanto o acesso limitado ao pré-natal foram fatores determinantes para o aumento do risco de morte materna, enquanto a vacinação se mostrou decisiva para a proteção da vida das mulheres e de seus bebês.

Os achados da tese evidenciam a urgência de adotar medidas precoces voltadas à proteção da saúde materno-infantil, o que inclui assegurar o acompanhamento médico contínuo durante a gestação, o parto e o pós-parto, além de garantir prioridade para a vacinação de gestantes. Nesse sentido, o fortalecimento do acesso e da qualidade da atenção obstétrica pode ser decisivo para evitar mortes maternas e reduzir complicações perinatais em futuras emergências de saúde pública provocadas por vírus respiratórios.

Contribuições para a Saúde Coletiva

“Entre as contribuições, destaco a utilização de dados populacionais para identificar fatores de risco modificáveis, como a inadequação do pré-natal e a ausência de vacinação contra a Covid-19; a geração de evidências para orientar políticas públicas voltadas à proteção de gestantes em situações de crise sanitária; e a ênfase na importância da garantia de cuidados obstétricos de qualidade e ininterruptos em todo o território”, ressalta Rita Carvalho Sauer.

Para a professora Maria da Conceição Costa, o estudo vai além de sua contribuição acadêmica ao evidenciar o profundo impacto social da pesquisa para a saúde pública. “Os resultados desta tese, desenvolvida no curso da pandemia de Covid-19, deram maior visibilidade aos efeitos adversos deste grave evento sanitário sobre uma população mais vulnerável, como as gestantes e seus conceptos, e destacam a necessidade de intervenções precoces de prevenção de doenças e proteção da saúde materno-infantil, em especial, a garantia de acompanhamento médico ininterrupto durante a gravidez, parto e pós-parto e acesso prioritário de gestantes à vacinação”, avalia.

Ainda na avaliação da orientadora, a decisão do comitê da Capes reflete justamente a força e a relevância do trabalho realizado. “Além do rigor e relevância científica, os estudos desenvolvidos geraram novos conhecimentos que poderão contribuir para prevenir mortes maternas e complicações perinatais em futuras emergências de saúde pública causadas por agentes infecciosos”, completa.

Próximos passos

Atualmente servidora da Secretaria Estadual da Saúde da Bahia, Rita Carvalho Sauer pretende aplicar os conhecimentos adquiridos no doutorado para fortalecer a vigilância em saúde, ao mesmo tempo em que projeta seguir carreira acadêmica.

Espero que os resultados dessas pesquisas possam se traduzir em ações de saúde pública, visando melhorar a qualidade de vida de todas as mães e seus bebês no Brasil, e contribuam na preparação para futuras emergências de saúde pública. Também desejo continuar desenvolvendo pesquisas e contribuir com a formação de outros profissionais por meio da docência, conclui a pesquisadora.