O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) lança hoje um boletim especial em referência ao Dia Mundial do Diabetes, celebrado anualmente em 14 de novembro, reforçando a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do cuidado contínuo com pessoas que vivem com a doença. A publicação reúne resultados de 17 anos de pesquisas sobre diabetes tipo 2, com evidências produzidas pelos mais de 15 mil participantes acompanhados em seis centros de investigação no país.
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, 589 milhões de adultos convivem com diabetes no mundo — número que pode chegar a 853 milhões até 2050. No Brasil, os dados do ELSA-Brasil permitem entender a carga da doença na população e identificar fatores de risco, desigualdades de saúde, impactos sobre o bem-estar e oportunidades de intervenção.
Ambiente de trabalho e saúde mental: foco da campanha de 2025
O tema do Dia Mundial do Diabetes deste ano é “Diabetes e bem-estar no ambiente de
trabalho”. No boletim, o ELSA-Brasil destaca que:
- 7 em cada 10 pessoas com diabetes estão em idade ativa;
- 3 em cada 4 podem apresentar ansiedade, depressão ou outros problemas de saúde
mental associados ao manejo da doença; - 4 em cada 5 experimentam burnout relacionado à diabetes.
Os achados reforçam a necessidade de ambientes laborais que favoreçam hábitos saudáveis, acolhimento e políticas institucionais de bem-estar.
Fatores alimentares e estilo de vida aumentam risco de diabetes
Pesquisas recentes do ELSA-Brasil mostram que:
- O consumo elevado de ultraprocessados aumenta em 24% o risco de diabetes.
- Carnes vermelhas e processadas são importantes impulsionadores de risco,
especialmente entre homens. - O sedentarismo está associado a maior prevalência de pré-diabetes e diabetes; por
outro lado, praticar 150 minutos semanais de atividade física no lazer protege contra
o declínio cognitivo relacionado à diabetes.
Desigualdades sociais e territoriais ampliam vulnerabilidades
Análises realizadas com participantes do ELSA-Brasil nos centros de investigação de Belo
Horizonte e Salvador mostram que as áreas com maior prevalência de diabetes concentram
moradores em condições socioeconômicas mais vulneráveis. Nessas localidades, observou-se que aglomerados de maior ocorrência da doença tendem a estar situados em regiões onde os
residentes:
- são majoritariamente pardos ou negros;
- apresentam baixa escolaridade.
Esses achados reforçam que o diabetes se distribui de forma desigual no território e que
fatores sociais e estruturais têm papel central no risco e no manejo da doença.
Consequências silenciosas: envelhecimento arterial, perda muscular e saúde mental
As análises do ELSA-Brasil mostram que:
- Marcadores glicêmicos elevados estão associados ao aumento da rigidez arterial, um
indicador de aterosclerose subclínica. - O diabetes tipo 2 eleva o risco de dinapenia (perda de força muscular) e sarcopenia
(perda de massa, força e função muscular). - Mulheres com diabetes apresentam risco 54% maior de desenvolver episódios
depressivos.
Esses achados ressaltam que o diabetes é uma condição de múltiplas faces, com impactos que vão além do controle da glicemia.
Desafios do controle: apenas 28,6% atingem as metas principais
O ELSA-Brasil verificou que menos de um terço das pessoas com diabetes atinge
simultaneamente:
- HbA1c < 7%;
- Pressão arterial < 140/90 mmHg;
- LDL-colesterol < 100 mg/dL.
Baixa adesão medicamentosa foi o principal comportamento associado ao controle glicêmico inadequado — um dado que reforça a necessidade de estratégias de educação em saúde e apoio ao autocuidado.
Inovações: calculadora de risco e diagnóstico precoce
O boletim apresenta duas iniciativas pioneiras derivadas do estudo:
- Calculadora de risco de diabetes para 10 anos, baseada em variáveis contínuas e
mais precisa que ferramentas de rastreamento tradicionais. - Evidências recentes mostram que a glicose de 1 hora no teste oral de tolerância
detecta precocemente pessoas em alto risco de diabetes tipo 2.
Sobre o ELSA-Brasil
O ELSA-Brasil é o maior estudo longitudinal sobre saúde do adulto na América Latina. Criado em 2008, acompanha servidores públicos de seis instituições: UFRGS, USP, UFBA, UFMG, UERJ e UFES. Entre seus principais objetivos, está investigar determinantes do diabetes, doenças cardiovasculares, saúde mental e envelhecimento.
A publicação especial do Dia Mundial do Diabetes está disponível gratuitamente no site do ELSA-Brasil.
Para acessar o boletim completo, clique aqui.







