[:pb]Com informações de Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil
Uma nova doença, com sintomas semelhantes à leishmaniose visceral, mas mais grave e resistente ao tratamento, foi descoberta em Sergipe. Duas pessoas morreram por causa da doença, que já acometeu 150 pessoas em Aracaju. O parasita ainda é desconhecido, mas os pesquisadores já identificaram que ele é diferente da Leishmania, responsável pela leishmaniose.
A doença está sendo investigada por um grupo de pesquisadores brasileiros, que publicaram um artigo na Emerging Infectious Diseases, a revista do Centro de Controle de Doenças Infecciosas (CDC) dos Estados Unidos. A pesquisa é realizada no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Liderada pela professora Sandra Regina Costa Maruyama, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o estudo está sendo desenvolvido em colaboração com colegas da equipe do professor João Santana Silva, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Diagnóstico, sintoma e tratamento
O diagnóstico e tratamento dos pacientes foi feito pelo médico Roque Pacheco de Almeida, professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, pesquisador e médico do Hospital Universitário/EBSERH de Aracaju. Em entrevista à Agência Brasil, Almeida contou que a doença vem infectando pessoas desde 2011 na capital sergipana, quando ele diagnosticou e tratou o primeiro caso. Esse paciente morreu em 2012, em consequência da doença.
Os sintomas, segundo ele, são muito parecidos aos do calazar (nome mais popular da leishmaniose visceral), mas evoluem com mais gravidade. “A gente trata muitos pacientes com calazar aqui. São vários por ano. Um desses pacientes não respondeu ao tratamento. Ele recidivou [a doença reapareceu], tratamos novamente, recidivou de novo. E, na terceira recidiva, apareceram lesões na pele. Em pacientes sem HIV não vemos isso. Ele não tinha HIV e apareceram lesões na pele, pelo corpo inteiro, tipo botões, que chamamos de pápulas”, contou o médico.
“Quando fizemos a biópsia, eram células repletas de parasitas. E aí o paciente evoluiu gravemente ao que chamamos de leishmaniose visceral grave, com sangramento. O baço dele era gigante, e a gente tentou formas de tratamento, mas ele não sobreviveu”, contou.
Almeida coletou amostras de tecidos desse paciente e os enviou a João Santana Silva, especialista em imunologia da FMRP-USP, que não conseguiu identificar o parasita pelos métodos tradicionais, comparando-o às espécies já conhecidas de Leishmania. Em 2014, a identificação do parasita ficou a cargo da bióloga e imunologista Sandra Regina Costa Maruyama, que começou a desconfiar que se tratava, na verdade, de um novo parasita que ainda não havia sido descrito pela ciência.
“A gente estava diante de um caso grave. Como não conhecíamos outras doenças, a gente achou que era um calazar grave. Mas quando fomos ver, o parasita isolado da medula óssea, da pele e do baço [desse paciente] se comportava também de maneira diferente em um camundongo [de laboratório]. O parasita [retirado] da pele dava lesão na pele do camundongo, mas não dava nos órgãos. E o parasita que veio da medula óssea dava lesão parecida com o calazar, no baço e no fígado [do camundongo]. Temos então dois parasitas diferentes no mesmo paciente”, falou Almeida.
Eles então fizeram um sequenciamento do DNA do parasita, que foi comparado ao de outros protozoários. Os pesquisadores perceberam, então, que não se tratava de Leishmania. O novo parasita se assemelha ao Crithidia fasciculata, que infecta apenas insetos e que é incapaz de infectar mamíferos. No entanto, essa nova espécie de parasita foi capaz de infectar humanos e camundongos – e de forma grave.
Segundo Almeida, os 150 pacientes isolados também estão sendo testados para se avaliar se também foram infectados por esse novo parasita. “Boa parte desses pacientes também pertence a esse novo grupo. Ou seja, o problema pode ser ainda maior do que estamos imaginando”, disse.
Os pesquisadores esperam, em breve, conseguir descrever o novo parasita e nomear a nova doença. “Identificamos um parasita novo, uma doença nova, que causa uma doença grave e com resposta terapêutica não totalmente suficiente ou eficaz. Queremos entender a extensão disso e de onde apareceu esse parasita, se foi uma mutação. Tem uma linha grande de pesquisa para a gente investigar. Também queremos ver, geograficamente, para onde está se expandindo o parasita”, disse Almeida.[:en]With information from Elaine Patricia Cruz, from Agência Brasil
A new disease, with symptoms similar to visceral leishmaniasis but more severe and resistant to treatment, was discovered in Sergipe. Two people died from the disease, which has already affected 150 people in Aracaju. The parasite is still unknown, but researchers have already identified that it is different from Leishmania, responsible for leishmaniasis.
The disease is being investigated by a group of Brazilian researchers who published an article in Emerging Infectious Diseases, the journal of the US Center for Infectious Disease Control (CDC). The research is conducted at the Center for Research on Inflammatory Diseases (CRID), with funding from the São Paulo State Research Support Foundation (Fapesp).
Led by Professor Sandra Regina Costa Maruyama, from the Federal University of São Carlos (UFSCar), the study is being developed in collaboration with colleagues from Professor João Santana Silva’s team, at Ribeirão Preto Medical School, University of São Paulo (FMRP). -USP).
Diagnosis, Symptom and Treatment
The diagnosis and treatment of the patients was made by physician Roque Pacheco de Almeida, professor of the Department of Medicine of the Federal University of Sergipe, researcher and physician at the University Hospital / EBSERH of Aracaju. In an interview with Agência Brasil, Almeida said that the disease has been infecting people since 2011 in the capital of Sergipe, when he diagnosed and treated the first case. This patient died in 2012 as a result of the disease.
The symptoms, he says, are very similar to those of kala-azar (the most popular name for visceral leishmaniasis), but develop more severely. “We treat a lot of kala-azar patients here. There are several a year. One of these patients did not respond to treatment. He relapsed [the disease reappeared], we treated again, relapsed again. And on the third relapse, skin lesions appeared. In patients without HIV we do not see this. He had no HIV and there were button-shaped skin lesions all over his body that we call papules, ”said the doctor.
“When we did the biopsy, they were cells full of parasites. Then the patient evolved severely to what we call severe visceral leishmaniasis with bleeding. His spleen was giant, and we tried treatment, but he didn’t survive, ”he said.
Almeida collected tissue samples from this patient and sent them to João Santana Silva, an immunology specialist at FMRP-USP, who could not identify the parasite by traditional methods, comparing it to known Leishmania species. In 2014, the parasite was identified by biologist and immunologist Sandra Regina Costa Maruyama, who began to suspect that it was, in fact, a new parasite that had not yet been described by science.
“We were facing a serious case. As we didn’t know other diseases, we thought it was a serious kala-azar. But when we went to see, the parasite isolated from the bone marrow, skin, and spleen [of this patient] also behaved differently in a [laboratory] mouse. The parasite [removed] from the skin damaged the skin of the mouse but did not damage the organs. And the parasite that came from the bone marrow gave a calazar-like lesion in the spleen and liver. So we have two different parasites in the same patient, ”said Almeida.
They then sequenced the parasite’s DNA, which was compared to that of other protozoa. The researchers then realized that this was not Leishmania. The new parasite resembles Crithidia fasciculata, which infects only insects and is unable to infect mammals. However, this new species of parasite was able to infect humans and mice – and severely.
According to Almeida, the 150 isolated patients are also being tested to assess if they have also been infected with this new parasite. “Most of these patients also belong to this new group. That is, the problem may be even bigger than we are imagining, ”he said.
Researchers hope soon to be able to describe the new parasite and name the new disease. “We identified a new parasite, a new disease, that causes a serious disease and a therapeutic response that is not entirely sufficient or effective. We want to understand the extent of this and where this parasite appeared, if it was a mutation. There’s a big line of research for us to investigate. We also want to see, geographically, where the parasite is expanding, ”said Almeida.[:es]Con información de Elaine Patricia Cruz, de Agência Brasil
En Sergipe se descubrió una nueva enfermedad, con síntomas similares a la leishmaniasis visceral pero más grave y resistente al tratamiento. Dos personas murieron por la enfermedad, que ya ha afectado a 150 personas en Aracaju. El parásito aún se desconoce, pero los investigadores ya han identificado que es diferente de Leishmania, responsable de la leishmaniasis.
La enfermedad está siendo investigada por un grupo de investigadores brasileños que publicaron un artículo en Emerging Infectious Diseases, la revista del Centro para el Control de Enfermedades Infecciosas (CDC) de EE. UU. La investigación se realiza en el Centro de Investigación sobre Enfermedades Inflamatorias (CRID), con fondos de la Fundación de Apoyo a la Investigación del Estado de São Paulo (Fapesp).
Dirigido por la profesora Sandra Regina Costa Maruyama, de la Universidad Federal de São Carlos (UFSCar), el estudio se está desarrollando en colaboración con colegas del equipo del profesor João Santana Silva, en la Facultad de Medicina Ribeirão Preto, Universidad de São Paulo (FMRP). -USP).
Diagnóstico, Síntoma y Tratamiento
El diagnóstico y tratamiento de los pacientes fue realizado por el médico Roque Pacheco de Almeida, profesor del Departamento de Medicina de la Universidad Federal de Sergipe, investigador y médico del Hospital Universitario / EBSERH de Aracaju. En una entrevista con Agência Brasil, Almeida dijo que la enfermedad ha estado infectando a personas desde 2011 en la capital de Sergipe, cuando diagnosticó y trató el primer caso. Este paciente falleció en 2012 como consecuencia de la enfermedad.
Los síntomas, dice, son muy similares a los del kala-azar (el nombre más popular para la leishmaniasis visceral), pero se desarrollan más severamente. “Aquí tratamos a muchos pacientes de kala-azar. Hay varios al año. Uno de estos pacientes no respondió al tratamiento. Él recayó [la enfermedad reapareció], tratamos nuevamente, recaída nuevamente. Y en la tercera recaída, aparecieron lesiones cutáneas. En pacientes sin VIH no vemos esto. No tenía VIH y había lesiones cutáneas en forma de botón en todo el cuerpo que llamamos pápulas ”, dijo el médico.
“Cuando hicimos la biopsia, eran células llenas de parásitos. Luego, el paciente evolucionó severamente a lo que llamamos leishmaniasis visceral severa con sangrado. Su bazo era gigante y probamos el tratamiento, pero no sobrevivió ”, dijo.
Almeida recolectó muestras de tejido de este paciente y se las envió a João Santana Silva, especialista en inmunología de FMRP-USP, quien no pudo identificar el parásito por métodos tradicionales, comparándolo con especies conocidas de Leishmania. En 2014, el parásito fue identificado por la bióloga e inmunóloga Sandra Regina Costa Maruyama, quien comenzó a sospechar que era, de hecho, un nuevo parásito que aún no había sido descrito por la ciencia.
“Nos enfrentamos a un caso grave. Como no conocíamos otras enfermedades, pensamos que era un kala-azar grave. Pero cuando fuimos a verlo, el parásito aislado de la médula ósea, la piel y el bazo [de este paciente] también se comportó de manera diferente en un ratón [de laboratorio]. El parásito [eliminado] de la piel dañó la piel del ratón pero no dañó los órganos. Y el parásito que provenía de la médula ósea causó una lesión similar a un calazar en el bazo y el hígado. Entonces tenemos dos parásitos diferentes en el mismo paciente ”, dijo Almeida.
Luego secuenciaron el ADN del parásito, que se comparó con el de otros protozoos. Los investigadores se dieron cuenta de que esto no era Leishmania. El nuevo parásito se parece a Crithidia fasciculata, que infecta solo a los insectos y no puede infectar a los mamíferos. Sin embargo, esta nueva especie de parásito pudo infectar a humanos y ratones, y severamente.
Según Almeida, los 150 pacientes aislados también están siendo evaluados para evaluar si también han sido infectados con este nuevo parásito. “La mayoría de estos pacientes también pertenecen a este nuevo grupo. Es decir, el problema puede ser aún mayor de lo que imaginamos ”, dijo.
Los investigadores esperan poder describir pronto el nuevo parásito y nombrar la nueva enfermedad. “Identificamos un nuevo parásito, una nueva enfermedad, que causa una enfermedad grave y una respuesta terapéutica que no es del todo suficiente o efectiva. Queremos entender el alcance de esto y dónde apareció este parásito, si fue una mutación. Hay una gran línea de investigación que debemos investigar. También queremos ver, geográficamente, dónde se está expandiendo el parásito ”, dijo Almeida.[:]