Por Matheus Gomes / Ascom GeRaSUS
Violências de gênero, raça, classe e etnia no trabalho em saúde foram temas centrais dos 21 encontros promovidos pelo curso GeRaSUS, realizado entre 5 de maio e 21 de julho de 2025. A iniciativa foi promovida pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), em cooperação técnica com o Ministério da Saúde, e teve como objetivo sensibilizar e qualificar profissionais da saúde no estado da Bahia para o enfrentamento das múltiplas formas de violência estrutural presentes nas dinâmicas de trabalho no SUS.
O curso foi dividido em quatro módulos temáticos, cada um conduzido por especialistas reconhecidos nacionalmente nas áreas de gênero, raça, racismo, saúde e direitos humanos. De acordo com a coordenadora do projeto e professora do ISC/UFBA, Ana Paula dos Reis, o curso foi uma experiência muito rica, ao propor a reflexão de temas sensíveis e suas especificidades entre trabalhadoras/es de saúde.
“A iniciativa contribuiu para fortalecer a relação da Universidade com o Ministério da Saúde, financiador do Projeto, as Secretarias de Saúde do SUS Bahia e, sobretudo, com seus profissionais. Contamos com professores e expositores com muita experiência nas temáticas abordadas, fortalecendo as discussões realizadas”, destaca a professora.
O Módulo 1 – Gênero, Trabalho e Saúde, coordenado pelas professoras da UFBA, Ana Paula dos Reis, Estela Aquino e Greice Menezes, discutiu os conceitos fundamentais de gênero, trabalho e cuidado em saúde. Foram abordadas questões como a articulação entre gênero, corpo, sexualidade e saúde, além de temas sensíveis como o assédio moral e sexual no ambiente profissional.
Em seguida, o Módulo 2 – Raça, Racismo e suas múltiplas manifestações explorou também as interseccionalidades com outros sistemas de opressão, como o sexismo, etarismo, capacitismo e classismo. Coordenado pela professora da UFBA, Dandara Ramos, o módulo teve como objetivo ampliar o letramento racial entre os(as) profissionais e fortalecer estratégias de enfrentamento aos racismos no SUS.
O Módulo 3 – Discriminações Múltiplas, coordenado pelas professoras Joilda Nery (UFBA) e Rosana Monteiro (UFSCar), discutiu como diferentes formas de discriminação — como o idadismo/etarismo, capacitismo, racismo, intolerância religiosa e discriminações de classe — afetam o cotidiano e os espaços de trabalho em saúde.
Por fim, o Módulo 4 – Violências no trabalho em saúde, coordenado pelas professoras Francisca Eleonora Schiavo e Iolanda Faria (UFBA), propôs uma reflexão sobre as diversas formas de violência que atravessam a sociedade brasileira e impactam diretamente os(as) trabalhadores(as) do SUS.
Ao longo de quase três meses, o curso GeRaSUS consolidou-se como um espaço de formação crítica, acolhimento e fortalecimento de profissionais comprometidos com a equidade, a justiça social e os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde.
A avaliação de cada módulo ocorreu de modo processual. Ao final, o curso foi positivamente avaliado pela grande maioria dos/das participantes. Para a cursista Alba Sousa, por exemplo, assistente social do SUS-Salvador, os encontros abordaram temas instigantes, discussões dinâmicas, e foi um espaço de diálogo, aprendizado e troca de experiências.
“Todos esses momentos refletiram no meu cotidiano profissional e pessoal, aguçaram ainda mais meus sentidos para estar mais atenta a situações de desigualdades e injustiças que podem ocorrer ou já ocorrem nas relações sociais nos diversos ambientes em que convivo”, complementou Alba Sousa.
O projeto promete novos desdobramentos para 2026 e marca também o início de novas possibilidades de atuação frente às violências estruturais que desafiam cotidianamente os(as) trabalhadores(as) da saúde no estado da Bahia.
“A melhor notícia é que, no primeiro semestre de 2026, teremos a segunda etapa, com o curso de aperfeiçoamento nas temáticas abordadas voltado, prioritariamente, aos profissionais que realizaram o curso de extensão. Será uma oportunidade para aprofundar as discussões e, principalmente, apoiar as/os participantes na elaboração de planos de ação a serem implementados nos seus locais de trabalho, em diversos âmbitos do SUS”, finaliza a coordenadora do projeto, Ana Paula dos Reis.