[:pb]Às vezes ele desenha uma casa. Outras; um avião. Para a nossa equipe, resolveu pintar o próprio nome sobre o papel em branco. Foi a forma que Arthur, de 6 anos, escolheu para se apresentar. Já para Kauã, também de 6 anos, vestir a roupa do homem-aranha e colocar a máscara do Capitão América, super-heróis preferidos, é também a melhor forma de fazer “as honras da casa”.
Arthur e Kauã são crianças atendidas pelo “Brincando em Família”, uma iniciativa de professores do curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Criado em 2010, o projeto aposta na brincadeira como uma forma de expressar emoções e, claro, aproximar pessoas. Só nos últimos seis anos, mais de 800 famílias já foram beneficiadas pelo projeto, que é uma atividade permanente de ensino-pesquisa-extensão da UFBA.
“Nós buscamos ofertar uma escuta e um acolhimento para fortalecer os vínculos familiares e, a partir disso, ajudar as famílias a encontrarem caminhos de lidar com as diversas questões”, explica a professora Vânia Bustamante, coordenadora do projeto.
O atendimento é realizado no prédio da Biblioteca Monteiro Lobato, no bairro de Nazaré, em Salvador, todas as terças pela manhã, das 9h às 12h. No local, as famílias recebem um acompanhamento psicoterapêutico gratuito para crianças que precisam desse tipo de atenção, mas que, geralmente, encontram dificuldade de acesso na rede pública de saúde da capital.
De: Acolhedores
Para: Famílias
“Sou apaixonada por esse projeto”. É assim que a psicóloga Niara Vianna, responsável por organizar o turno de atendimento, define sua relação com o Brincando em Família. “As pessoas que estão aqui têm internalizado um sentimento amplo de cuidado.”, completa. Segundo a psicóloga, além do espaço físico oferecido, os acolhedores também buscam realizar visitas às escolas, para entender de perto o ambiente onde essas crianças estão inseridas, e também buscam apoio a especialidades, como fonoaudiologia, psiquiatria ou qualquer outro serviço que a criança precise nos órgãos públicos de saúde.
Quem também realiza um trabalho importante de doação nesse projeto são os estudantes. Anna Flynn está no 4º semestre de Psicologia e foi durante uma palestra do projeto, na faculdade, que ela conheceu o Brincando em Família. “A gente descobre que não é um brincar livre, mas que existe um olhar clínico também, para tentar entender a criança e costurar uma história a partir do que é narrado pelas famílias”, explica a estudante.
O projeto também ajudou Alexandre dos Prazeres a escolher a área de atuação profissional que o estudante pretende seguir: a Psicologia Infantil. “O Brincando em Família foi a minha maior escola até agora. Essa vivência prática foi que me proporcionou esse entendimento do que é ser psicólogo. E, principalmente, mudou minha visão com o outro. Saber o que é cuidar.”, revela Alexandre.
De: Arthur
Para: Jaquilane
Acordar às 7 horas da manhã. Depois, pegar mais dois ônibus e um metrô. Nada disso desestimula Jaquilane Ferreira Miranda, tia do pequeno Arthur, que apresentamos no início da matéria, de levá-lo toda terça-feira ao projeto. É a sexta vez que eles comparecem.
Tudo começou por conta do comportamento hiperativo do menino e a dificuldade para se socializar. Moradores da Estrada Velha do Aeroporto, eles chegaram a procurar atendimento psicológico em vários postos de saúde da cidade, mas sem sucesso. Foi então que o Brincando em Família apareceu como sugestão de pessoas que já conheciam o projeto.
Enquanto Arthur desenha, a tia conta para uma das acolhedoras um pouco sobre a rotina do menino nos últimos dias, tanto na escola, como em casa. Entre brincadeiras e diálogos, um mundo inteiro se revela. “Além da minha família, sei que muitas outras também são ajudadas. É por isso que esse projeto não pode parar.”, desabafa Jaquilane.
Pouco a pouco, a tia comemora as mudanças. Segundo ela, o sobrinho passou a brincar e a conversar mais, além de ser mais disciplinado, até mesmo para guardar os brinquedos do projeto antes de ir para casa. Mas o principal motivo de comemoração é tão simples quanto valioso para a tia: o abraço espontâneo, que Arthur tinha tanta dificuldade para oferecer à família.
De: Você
Para: Eles
Mas sem uma fonte de recursos financeiros fixa, a única alternativa encontrada pelo grupo, para continuar as atividades, foi uma vaquinha virtual, que eles realizam pelo terceiro ano consecutivo. O dinheiro é necessário para comprar os materiais usados no projeto, como pintura, brinquedos e mobília.
Caso consigam atingir as doações, em torno de R$ 5 mil, a ideia é ampliar o atendimento para mais um turno da semana. Até o momento, menos de 30% do valor foi alcançado.
Para ajudar na campanha, basta acessar >>este link<< e doar qualquer quantia.
Contribua e, assim como Arthur, ofereça também o seu abraço ao projeto.[:]