O segundo dia de pré-congresso do ABRASCÃO 2025 evidenciou a força, amplitude e diversidade das contribuições do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (ISC/UFBA) para o campo da saúde coletiva no país. Docentes, pesquisadores(as) e estudantes do Instituto estiveram à frente de diferentes oficinas que abordaram temas estratégicos, reforçando o compromisso do ISC com a produção de conhecimento crítico, interdisciplinar e socialmente comprometido.
Oficina “Contemplando a Permanência no Ecossistema da PPGSC: uma prática em comunidade”
Os docentes Marcelo Castellanos e Sandra Coelho, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, coordenaram a oficina “Contemplando a Permanência no Ecossistema da PPGSC: uma prática em comunidade”.
A proposta da atividade foi convidar congressistas a vivenciarem um momento de pausa. Mas, não uma pausa qualquer, e sim uma pausa intencional, voltada à (auto)observação e à consciência das próprias experiências e relações. “A motivação da oficina foi falar sobre as experiências”, afirma a professora Sandra. O professor Marcelo acrescenta: “a possibilidade de passarmos uma manhã ou uma tarde juntos, sem a pressão de realizar um monte de coisas e entregar vários produtos, foi o diferencial. Isso possibilitou que, nas nossas diferenças, a gente pudesse estar junto”.

A oficina reuniu um público diverso, como coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, docentes e estudantes, evidenciando que – apesar dos desafios compartilhados por todos – “o encanto de fazer parte dos programas de pós-graduação e da Saúde Coletiva também esteve muito presente”, apontou a professora Sandra Coelho.
Ao final, o professor Castellanos fez uma reflexão sobre o contexto atual da pós-graduação: “[…] eu sinto que a pós-graduação passou a servir à estrutura, e não a estrutura servir à pós-graduação. A gente está precisando flexibilizar um pouco mais isso, e isso, na minha percepção, só vai acontecer se agirmos como uma comunidade”.
Oficina para integração entre grupos de pesquisa em Epidemiologia do Câncer no Brasil
A vice-diretora do ISC/UFBA, Sheila Alvim, participou de uma oficina que teve como objetivo criar um espaço de articulação entre pesquisadores(as) de diferentes regiões para a formação de uma rede dedicada a pensar à epidemiologia do câncer no Brasil. A proposta, coordenada pela professora Gulnar Azevedo e Silva e pelo professor Dyego Leandro Bezerra de Souza, busca qualificar as informações disponíveis sobre a doença no país e fortalecer a divulgação científica em parceria com o INCA e outras instituições.

A proposta é que a rede deverá ser vinculada à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e reunir instituições atuantes na área para melhorar a produção, a comunicação e o uso de dados e estudos já existentes sobre o tema — incluindo produções científicas e informações da coorte ELSA-Brasil, coordenada por Sheila no ISC/UFBA.
Segundo a docente, o trabalho em rede e o esforço de ampliar o acesso à informação qualificada são fundamentais. Ela cita o exemplo do Painel Oncologia:
“o painel carece de uma divulgação melhor, inclusive entre jornalistas e movimentos sociais, para que possam interpretar e se apropriar dessas informações de forma correta. Sem desvio, sem notícia falsa – algo que nem sempre é fácil para quem não é da área. Então, a ideia é também fazer essa translação do conhecimento para a população geral”.
Oficina “Contracolonialidade e Saúde Coletiva: interfaces entre os saberes e práticas das medicinas ancestrais e as políticas de saúde”
Coordenada pelo doutorando do ISC/UFBA e coordenador do Coletivo de Saúde da CONAQ, Mateus Brito, pela diretora do ISC/UFBA, Joilda Nery, e pela mestra Sandra (CONAQ), a oficina abordou os modos de vida dos povos tradicionais, seus saberes e fazeres ancestrais na promoção, prevenção e cuidado em saúde, especialmente no contexto das populações quilombolas.
Foram discutidos os conhecimentos e tecnologias ancestrais que garantiram a sobrevivência desses povos diante de violências sistemáticas e da negação de direitos básicos, como saúde e moradia. “Os sistemas tradicionais de cuidado que estão dentro do território são anteriores ao Sistema Único de Saúde. O SUS tem pouco mais de 30 anos; esses territórios têm mais de 500”, destacou Mateus Brito.
As práticas de saúde derivadas das medicinas ancestrais nos territórios quilombolas não se dissociam da comunidade ou do território e se articulam também com a relação contínua com os ancestrais. Diversas experiências foram compartilhadas com benzedeiras, parteiras e centros espirituais, evidenciando a força e relevância desses saberes.

A professora Joilda Nery ressaltou a urgência de visibilidade para a pauta:
“estamos em um momento muito delicado no que se refere à pasta da saúde quilombola […]. É muito oportuno estarmos aqui, nesse espaço do ABRASCÃO. As mulheres quilombolas da CONAQ nos fortaleceram dizendo: ‘não, tem que fazer, tem que ocupar o espaço’, para que as pessoas saibam o que está acontecendo – o que Sandra e Mateus colocaram muito bem sobre os entraves na Política de Saúde Integral da População Quilombola”.
Oficina “A categoria raça nas diferentes áreas da Saúde Coletiva: perspectivas, embates e convergências no enfrentamento do racismo”
Ministrada pela professora Dandara Ramos, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, a oficina reuniu pesquisadoras(es), estudantes e ativistas para discutir como a categoria raça é produzida, mobilizada e tensionada no campo da saúde coletiva. A atividade evidenciou a centralidade do debate racial nas políticas públicas, na formação profissional, na produção científica e na prática em saúde.

Ao longo da sessão, Dandara conduziu reflexões sobre as dimensões históricas, políticas e epistemológicas do conceito de raça, destacando como essa categoria é frequentemente tratada de forma insuficiente ou distorcida em pesquisas, serviços de saúde e processos formativos.
A oficina reforçou que não há saúde coletiva sem um debate qualificado sobre raça e que enfrentar o racismo exige integrar saberes, práticas e políticas de forma transversal, contínua e comprometida com a equidade.
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Texto: Arthur Lopes e Ana Flávia Nery







