Com informações de Bruno C. Dias/Ascom Abrasco
Desde a primeira notícia foi anunciado que o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva seria diferente: teria como marca os abraços e reeencontros suspensos por conta da Covid-19; envolveria novas formas de pensar a produção do conhecimento e novos protagonismos políticos. Após termos vivenciado esses intensos 6 dias, conversamos com alguns participantes para ouvir suas impressões.
A importância da interface entre áreas e temáticas da Saúde Coletiva como disparadora para novas ideias e e pesquisas e o reconhecimento de novas vozes, novas caras, cabelos e peles se juntaram com a inspiração e a grandiosidade consolidadas nesta edição. “O desejo de participar e ser cada vez mais presente em espaço de diálogos e construção coletiva” diz Adriano da Silva, frase que também apareceu nas análises de Ingrid D’avilla, Luciana Brito, Edjavane Rocha, Gessinayde Queiroz e Matheus Pedreira. Leia os depoimentos.
Ingrid D’avilla
No currículo, Ingrid D’avilla carrega participações em 9 Congressos da Abrasco, sendo 5 Abrascões. Sempre envolvida na sua construção e admirada com a grandiosidade do evento, ela não deixou de fazer críticas e participar das mobilizações que frisaram a necessidade de ampliar a participação do movimento estudantil e social e de haver políticas de acesso para estudantes com menos recursos, como “Abraço à Abrasco”, em 2006, e “Ocupa Abrasco”, em 2012. Contudo, foi nesta 13ª edição que esta sanitarista de 36 anos, mulher nordestina, pobre e negra de pele clara, atualmente vice-diretora de ensino e informação da EPSJV/Fiocruz, se sentiu, de fato, representada.
“Entendo que passos importantes para ampliação da diversidade e inclusão foram dados no Congresso de Salvador. Destaco a implementação de ações afirmativas, que embora tardiamente, oportunizaram acesso equânime a segmentos políticos e científicos historicamente invisibilizados. A escolha dos temas para grandes debates e seleção de trabalhos com ênfase na diversidade, equidade e justiça social fizeram com que eu pudesse, finalmente, me sentir representada no Abrascão”.
Para completar, o trabalho apresentado por Ingrid – Poli Monitora Covid-19 – foi um dos laureados do ano. “A premiação é resultado do belíssimo trabalho e amplo reconhecimento social da EPSJV/Fiocruz na construção de soluções e disseminação do conhecimento para a reabertura segura de escolas, certamente, um dos maiores e mais negligenciados desafios da pandemia em nosso país”.
Luciana Brito
Psicóloga, doutora em saúde pública, pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – e integrante do GT Bioética/Abrasco. Com todas essas credenciais, este foi primeiro Congressso que Luciana Brito, 37 anos, compôs a Comissão Científica, num misto de honra e alegria. “Estar ao lado de professores e pesquisadoras que foram referências durante minha formação e que hoje tenho o privilégio de os ter como meus colegas e pares e com eles compartilhar experiências entre gerações encheu ainda mais de sentido essa experiência”.
Luciana destaca que a grande inovação metodológica do ano – a submissão por eixos temáticos ao invés das áreas temáticas – tornou o congresso ainda mais inspirador. “O Abrascão demandou uma genuína conexão e partilha de saberes e experiências entre diferentes pesquisadores. Para mim, isso especialmente se deu porque, para desenhar as propostas dos eixos e avaliar os resumos, nos conectamos com colegas de diferentes áreas temáticas. Assim, materializamos a reflexão de que as ações e saberes na Saúde Coletiva estão, necessariamente, em permanente diálogo, num importante exercício para descolonizarmos os lugares comuns e hegemônicos que muitas vezes reproduzimos quando ocupamos posições de saber e poder”.
Adriano da Silva
Adriano da Silva, doutor em Saúde Pública pela ENSP/Fiocruz e chefe da biblioteca desta Escola, avalia como “surpreendentemente positiva” sua primeira participação numa sessão coordenada na área da Saúde Coletiva. “Apresentar no Abrascão não só me tirou da zona de conforto como me colocou para pensar em saúde de maneira plural. Foi muito prazeroso falar para um público com diversas trajetórias e experiências. Além disso, o Congresso me apresentou uma diversidade de discussões que contribuem não só para minha formação profissional, mas também como cidadão brasileiro”. Agora que vivenciou o evento, o jovem pesquisador de 36 anos quer repetir a dose. “Ser reconhecido pelos pares gera um sentimento de inspiração e o desejo de participar e estar cada vez mais presente em espaços de construção coletiva.”
Edjavane Rocha
“É super diferente participar de um evento com essa grandiosidade do Abrascão. Foi o Congresso que pude aproveitar melhor, na sua totalidade”, é o que avalia Edjavane Rocha, 39 anos, assistente social, mestra em Saúde Pública pelo PPGSC/UFPB e integrante do Observatório da Gestão Estadual do SUS no Rio Grande do Norte (OGE-SUS-RN), projeto conjunto do CCE/Fiocruz, Sesap/RN, NESC/UFRN e CCS/UFPB. Edjavane já havia participado do Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, em 2019, e do virtual de Epidemiologia, em 2021.
Contudo, o primeiro Abrascão a gente não esquece. “Tive facilidade de gravar minha apresentação curta assíncrona e fiquei feliz pela a seleção do trabalho. Poder contribuir com a minha pesquisa, assistir a mesas e debates de nossos temas de estudo, ver e conhecer autores da minha bibliografia e fazer parte desse sentimento de comunidade e partilha que é o Congresso alimenta o nosso fazer acadêmico e profissional.”
Gessinayde Queiroz
A realização de um sonho. Assim Gessinayde Queiroz definiu sua partipação no Abrascão 22. Com 33 anos, ela é cria do ISC/UFBA: fez a graduação, a residência e acaba de ser selecionada para o mestrado do Programa de Pós-Graduação dessa instituição, e viveu o evento ao máximo. Participou tanto do apoio técnico ao Abrasco Jovem como da equipe de criação da Estratégia Abrasco em Movimento. Em ambos, pôde colocar em prática conhecimento científico, trabalho operacional e criatividade para a diagramação de cartazes, marcadores e folders e na produção de um documentário sobre a nova cara da Saúde Coletiva surgida neste Congresso.
Junto com Nana Moraes, fotógrafa e artista plástica, e Liliana Santos, docente do Instituto, formaram o trio que construiu a Estratégia. “Desde junho, realizamos três oficinas onde a gente discutiu como ocupar esse espaço, num processo que foi se fortalecendo e colocou os movimentos sociais como atores principais dos debates”, destaca Gessi, que articulou com as lideranças dos movimentos e comunidades as saídas fotográficas da artista, sempre respeitando a disponibilidade das pessoas e de suas agendas. “Visitamos e conversamos com as pessoas para ouvir suas histórias em terreiros, acampamento do MST, quilombos, comunidades pesqueiras. Estar mais próximo da realidade das pessoas possibilitou ver como elas fazem saúde e fortalecem suas lutas no dia a dia. Tudo foi registrado com muito cuidado pelo olhar sensível da Nana”, explica ela. As imagens, dispostas nas bandeiras ao céu da instalação aberta no meio do mezanino, bem no centro do fluxo das sessões, ajudaram a expressar o novo protagonismo e marco histórico representados nesta edição do Congresso.
Matheus Pedreira
Acolhimento e pertencimento foram as palavras que Mateus Pedreira, 27 anos, estudante da Graduação em Saúde Coletiva do ISC/UFBA, usou para definir o Congresso. Participar como monitor dos Cafés Intergeracionais e demais sessões permitiu conhecer como se organiza essa atividade desse porte e conhecer profissionais de referência, que lutaram pela construção do SUS e fizeram o movimento da Reforma Sanitária. “Poder viver isso tem ajudado no meu processo de ver minha formação com outros olhos, entendendo o meu lugar dentro desse mundo”. Matheus, assim como os demais entrevistados, encerra o Abrascão fortalecido tanto em sua escolha pela Saúde Coletiva como pela perspectiva crítica como cidadão. “Encontrar as pessoas e estar junto delas depois desse período duro de 2 anos de pandemia e pelo qual ainda estamos passando me dá um sentimento de pertencimento a essas ideias e valores que a Saúde Coletiva ensina, e de acolinhento na luta pelo SUS que queremos”.