[:pb]Entre novembro de 2020 e março de 2021, a proporção de mortes por Covid-19 de pessoas com idade entre 30 e 59 anos aumentou de 20,3% para 26,9% no Brasil. Mas até que ponto essa mudança no perfil de mortalidade no país representa uma nova tendência global? O assunto ganhou destaque em artigo publicado recentemente na GP-Older-COVID, uma plataforma internacional formada por acadêmicos com foco no impacto da pandemia sobre adultos mais velhos em países de baixa e média renda.
A publicação destaca as possíveis razões para o crescimento no número de mortes entre os mais jovens no Brasil, como o impacto dos programas de vacinação sobre os idosos. “Um grande número de mortes entre os brasileiros mais velhos no último ano pode significar que aqueles que sobrevivem são relativamente saudáveis e, portanto, mais resistentes; um efeito também observado em outros países”, explica o sanitarista Luis Eugenio de Souza, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. O artigo também é assinado pelos pesquisadores Peter Lloyd-Sherlock (Universidade de East Anglia) e Karla Giacomin (NESPE – FIOCRUZ/UFMG).
Além disso, outros fatores comportamentais também podem ter contribuído para o aumento no Brasil de mortes em idades mais jovens, como a redução do distanciamento social de adultos jovens, devido à necessidade econômica e cansaço do isolamento, e o risco dos mais velhos estarem abandonando prematuramente o distanciamento social após a primeira dose da vacina.
Os pesquisadores alertam que esses efeitos não são exclusivos do Brasil. As evidências preliminares apontam, por exemplo, que a letalidade entre adultos jovens para a nova variante de Manaus é maior do que para as variantes anteriores, e a rápida disseminação dessa variante para além das fronteiras do Brasil já deve ser motivo de preocupação global.
Apesar do crescimento da mortalidade entre os mais jovens, os pesquisadores chamam atenção para o fato de quase três quartos das mortes ainda ocorrem entre pessoas com 60 anos ou mais. O número absoluto de mortes diárias nesse grupo aumentou de 400 para mais de 2.000 casos nos últimos quatro meses.
“O foco da mídia nos jovens é compreensível, mas pode contribuir para um viés etário nas percepções da pandemia. Além disso, há evidências emergentes de que o risco de mortalidade por Covid-19 para pessoas de todas as idades, idosos e jovens, é significativamente maior para grupos desfavorecidos”, destaca Souza.
Para o grupo de pesquisadores, o cenário atual representa uma lição do Brasil para o resto do mundo. “Embora importante, a vacinação em massa de Covid-19 não pode virar a maré da pandemia sozinha, especialmente quando novas variantes perigosas se tornam prevalentes. Quando isso acontece, não há alternativa para medidas estritas e coordenadas, incluindo bloqueios”, conclui.
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