Autora: Raiza Tourinho

Por ser considerada a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento médico na Atenção Primária à Saúde (APS) foi percebido, por algum tempo, como mais “simples”, em comparação às demandas de especialização requeridas em outros níveis de assistência. No entanto, assegurar um atendimento qualificado à população que é atendida em postos e centros de saúde está longe de ser considerada uma tarefa fácil: requer uma formação especializada, especialmente para atingir o índice de 80% das demandas de saúde que podem ser resolvidas nesses pontos de atenção do SUS.

É justamente a formação fornecida para quase 25 mil desses profissionais, pelo Projeto Mais Médicos pelo Brasil, que uma equipe de pesquisadoras do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba) analisará nos próximos meses. Em parceria com o Ministério da Saúde, a Opas e o UNA-SUS, o estudo irá investigar o perfil dos médicos e das trilhas formativas previstas pelo projeto a partir de 2023, ano no qual foi lançado a Estratégia Nacional de Formação de Especialistas para a Saúde, no âmbito do Programa Mais Médicos.

A pesquisa pretende descrever o perfil sociodemográfico dos médicos e as características das unidades básicas de saúde e dos seus municípios de alocação; caracterizar a formação e a experiência profissional prévia dos médicos; analisar as trilhas formativas comparadas ao modelo de APS integral, territorial e de base comunitária, além dos ciclos formativos e as características das práticas dos médicos, a partir dos contextos regionais.

Todos os médicos do Programa estão convidados a participar do questionário, a partir de link enviado por e-mail, até o final de março de 2025.

Questionário

Para a realização do estudo, a equipe planeja duas estratégias: o processamento de dados secundários dos municípios e unidades básicas de atuação dos médicos, provenientes de dados administrativos e dos sistemas de informação em saúde. E um questionário, a ser aplicado diretamente aos médicos participantes do projeto em novembro e dezembro de 2024.

Além do perfil sociodemográfico, de formação e profissional, o questionário contém a coleta de informações sobre as atividades desenvolvidas na unidade básica de saúde à qual o médico está vinculado; a autopercepção do médico sobre seu conhecimento e habilidades, a formação profissional dentro do próprio Projeto e a fixação dos médicos nos municípios.

Sobre o Projeto

O Programa Mais Médicos foi criado em 2013 e está fundamentado pelas diretrizes pedagógicas da Educação Permanente, visando atender a população brasileira nos serviços de Atenção Básica do SUS, a partir de modalidades formativas que articulam ensino, pesquisa e extensão.

Além de levar médicos para regiões onde há escassez ou ausência desses profissionais, o programa prevê a reorganização da oferta de novas vagas de graduação e residência médica, para qualificar a formação desses profissionais, de acordo com a página do programa. Deste modo, o Mais Médicos busca resolver a questão emergencial do atendimento básico ao cidadão, e cria condições para continuar a garantir um atendimento qualificado no futuro para aqueles que acessam cotidianamente o SUS.

Já o Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB) foi instituído no âmbito do Programa Mais Médicos, e se desenvolve na linha de provimento de médicos para atuação em Unidades de Atenção Básica à Saúde, associada à qualificação destes profissionais para o exercício das atividades de ensino-serviço. Durante a permanência no PMMB, estes médicos participarão de processos de aperfeiçoamento profissional, numa perspectiva de educação permanente.

A coordenação do Projeto Mais Médicos é realizada pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Educação. Os profissionais participam de diversos formatos de ações educacionais: supervisão acadêmica permanente, cursos de curta duração, cursos de especialização, mestrado ou doutorado profissionais em áreas temáticas da APS e voltadas para o atendimento das necessidades da população.