
Com resultados positivos no atendimento a pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social e no alívio da sobrecarga de seus familiares, o Programa Maior Cuidado (PMC) será continuado em Salvador. O anúncio foi feito pelo secretário municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre), Júnior Magalhães, no dia 17 de julho, no auditório do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, durante a apresentação dos resultados preliminares do projeto-piloto na capital baiana (leia nota completa).
Segundo a Prefeitura de Salvador, a permanência do PMC por mais dois anos contará com um investimento inicial de R$ 6 milhões, financiados pelo Fundo Municipal da Pessoa Idosa. A medida permitirá o atendimento a 100 pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social, ou seja, um aumento de 40% em relação ao número atendido na fase inicial do projeto-piloto, que alcançou 72 famílias nos bairros de Cajazeiras e Cabula/Beiru.

“O envelhecimento e o aumento da longevidade da população já são um fato, então precisamos nos preparar para acolher e cuidar melhor daqueles que tanto contribuíram com a formação da nossa sociedade e estão hoje em situação de vulnerabilidade e risco social. Os resultados mostrados só evidenciaram o quanto este programa é necessário”, destacou o titular da Sempre, Júnior Magalhães.
Além do secretário, a mesa de abertura do evento de apresentação dos resultados contou com a presença do professor Luis Eugênio de Souza, diretor do ISC/UFBA e coordenador-geral do projeto-piloto do PMC; Caroline Miranda, representante da Secretaria Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento Social; Lígia Gualberto, coordenadora de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde; Augusto Vidreira, diretor de Atenção Primária à Saúde (SMS/Salvador); e Odair Câmara, referência técnica da Proteção Social Básica do município de Contagem (MG). O evento também contou com a participação de pesquisadores, profissionais de assistência social e de saúde e cuidadores sociais que atuaram diretamente junto às famílias.
Fruto de uma cooperação técnica com o Ministério da Saúde e a Prefeitura de Salvador, por meio da Sempre e da SMS, o projeto-piloto do Programa Maior Cuidado foi coordenado pelo ISC/UFBA e recebeu apoio de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Fiocruz Minas, da Associação Cuidadosa e da Northumbria University (Reino Unido).
A iniciativa foi executada em Salvador ao longo de 18 meses, entre setembro de 2023 e fevereiro de 2025, com foco no acompanhamento de pessoas idosas dependentes e semidependentes, ou seja, aquelas que necessitam de apoio total ou parcial para realizar atividades básicas do cotidiano. As ações foram desenvolvidas nos territórios de Cajazeiras, onde 34 idosos foram atendidos, e Cabula/Beiru, com 38 atendimentos.
Implantado originalmente em Belo Horizonte, em 2011, o Programa Maior Cuidado já demonstrou resultados positivos tanto na qualidade de vida de idosos e seus familiares quanto na redução de custos nos sistemas de saúde e assistência social. Segundo o professor Luis Eugenio de Souza, a execução do projeto-piloto na capita baiana permitiu testar a viabilidade da expansão dessa experiência para outros municípios.

“Preparamos o campo, caracterizamos as redes de atenção, implementamos a intervenção e monitoramos os resultados durante 18 meses. Cometemos erros, mas é justamente esse o papel de um projeto-piloto: identificar falhas, desafios administrativos e operacionais, especialmente na articulação com as secretarias e os serviços locais”, destacou.
O projeto-piloto do Programa Maior Cuidado foi executado simultaneamente em Salvador e em Contagem (MG), com a proposta de garantir a permanência das pessoas idosas em seus lares, fortalecer os vínculos familiares e comunitários e reduzir as desigualdades no acesso ao cuidado.
A expectativa é que os aprendizados de ambas as experiências possam subsidiar a elaboração de recomendações ao Ministério da Saúde e ao Ministério do Desenvolvimento Social sobre a viabilidade de transformar o PMC em uma política nacional de cuidado.

Resultados Preliminares do PMC em Salvador

Durante o evento de apresentação dos resultados, a professora Berenice Timóteo (ISC/UFBA), coordenadora-executiva do PMC-ISC, destacou os principais dados que evidenciam o impacto positivo da iniciativa ao longo de 18 meses de implementação no município de Salvador.
No total, 72 pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social foram acompanhadas, sendo 75% mulheres com média de idade de 78 anos – quase metade com 80 anos ou mais. A maioria vivia com até um salário-mínimo e apresentava elevado grau de dependência funcional, com prevalência de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.
Para o atendimento especializado desses idosos, foram contratadas 17 cuidadoras sociais, devidamente capacitadas para oferecer apoio no dia a dia das famílias. Os profissionais atuaram diretamente nos domicílios em atividades como higiene pessoal, alimentação, organização do ambiente, administração de medicamentos e estímulo à socialização.
O trabalho foi realizado em articulação com as equipes das Unidades de Saúde da Família (USF) e dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), contribuindo para aliviar a sobrecarga familiar, fortalecer vínculos e promover maior autonomia às pessoas idosas atendidas.
Segundo a professora, a experiência resultou em melhorias significativas na qualidade de vida das pessoas idosas, na redução da sobrecarga de familiares, no fortalecimento da autonomia para atividades cotidianas e na ampliação do vínculo com a rede intersetorial de apoio, incluindo unidades de saúde e serviços socioassistenciais.
Entre os principais desafios, a equipe apontou uma alta rotatividade de cuidadores, a necessidade de maior articulação com as Unidades de Saúde da Família e a superação de entraves na comunicação entre os serviços.
Estudo de avaliação recomenda continuidade do programa

Na sequência, o professor Peter Lloyd-Sherlock (Northumbria University – Reino Unido), especialista em políticas públicas para o envelhecimento, apresentou os impactos positivos na saúde física e mental das pessoas idosas acompanhadas pelo PMC, com destaque para a redução de sintomas depressivos e de hospitalizações, além de uma melhora significativa na mobilidade e na autonomia. Esses ganhos foram mais evidentes entre os idosos com menor grau de dependência no início do acompanhamento.
O estudo também apontou impactos sobre o bem-estar dos cuidadores familiares, com diminuição da sobrecarga emocional e maior segurança em relação ao cuidado. A atuação das cuidadoras sociais foi considerada essencial para o sucesso do programa, especialmente pela criação de vínculos afetivos e pelo apoio cotidiano oferecido nos domicílios.
Peter destacou ainda que parte dos avanços obtidos sofreu retrocesso após o encerramento do projeto-piloto, o que reforça a importância da continuidade das ações para garantir efeitos sustentáveis. O pesquisador também ressaltou que a experiência em Salvador demonstra a viabilidade e o potencial do Programa Maior Cuidado como política pública efetiva de atenção às pessoas idosas em contextos urbanos.
Assista, abaixo, à integra do seminário com os principais resultados apresentados pela equipe do PMC:
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