Oferecer cuidados socioassistenciais e de saúde a idosos em situação de vulnerabilidade social e melhorar a qualidade de vida de 50 famílias do município de Salvador. Essa é a proposta do Programa Maior Cuidado, uma parceria entre o Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Ministério da Saúde, por meio do projeto “Estudo e pesquisa sobre a saúde da pessoa idosa”. As atividades para validação dos processos de trabalho do projeto-piloto foram iniciadas na última terça-feira (18), no auditório da Escola de Administração da UFBA.
De acordo com o programa, a prestação de cuidados a idosos dependentes e semidependentes na capital baiana será realizada nos domicílios das próprias famílias, através do trabalho de 17 cuidadores sociais, que atuarão em dois territórios específicos: no Distrito Sanitário Cabula/Beiru (CRAS Engomadeira e USF Estrada das Barreiras,) e no Distrito Sanitário Cajazeiras (CRAS Cajazeiras 8 e USF Cajazeiras). A realização do Programa Maior Cuidado em Salvador é resultado da articulação intersetorial do ISC/UFBA com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (SEMPRE).
Além de melhorar a qualidade de vida da pessoa idosa e sua família, o programa visa favorecer a manutenção da independência e da autonomia da pessoa idosa, qualificar e humanizar o cuidado prestado no domicílio e reduzir internações hospitalares evitáveis. “O programa pretende qualificar os cuidados prestados pelo cuidador familiar e reduzir a sobrecarga de trabalho das famílias. Nesse sentido, os cuidadores sociais vêm somar, ou seja, realizar uma espécie de força tarefa para promover a qualidade do cuidado no âmbito do domicilio”, explica a professora Berenice Berenice Temoteo-da-Silva (ISC/UFBA), vice-coordenadora do projeto.
As estratégias de implementação do Programa Maior Cuidado em Salvador seguem um modelo de sucesso adotado no município de Belo Horizonte, onde o projeto já existe há 12 anos. A equipe liderada pelo ISC/UFBA ficará responsável não apenas pela implantação no município, mas também estimar a efetividade do projeto-piloto.
“A nossa proposta é replicar a experiência bem-sucedida de Belo Horizonte aqui em Salvador e avaliar a adaptação desse modelo a outras cidades. A expectativa é que esse programa possa, futuramente, tornar-se uma política nacional na área da promoção social e da saúde”, destaca o professor Luis Eugenio de Souza (ISC/UFBA), coordenador do Programa Maior Cuidado em Salvador.
Para o secretário municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer, Junio Magalhães, o êxito do programa está na transversalidade com outras secretarias para um atendimento mais completo, tanto em relação à saúde, como para uma assistência social mais ampla.
“Belo Horizonte e Salvador são capitais diferentes, com condições sociais diferentes, inclusive urbanísticas, e estamos atentos às adequações necessárias. É uma experiência exitosa e importante, que deve transformar a vida de 50 famílias e se tornar uma nova política de cuidado para a população idosa de Salvador”, observa.
A mesa de abertura do evento também contou com a participação de Emanuele Rodovalho, diretora de Proteção Social Básica da Sempre; Raildes Alves, gestora do Fundo Municipal da Pessoa Idosa; e Getisêmani Menezes, coordenador de Atenção Primária à Saúde do município.
Troca de experiências
Criado em 2011, o Programa Maior Cuidado atende atualmente a 680 idosos no município de Belo Horizonte, acompanhados por 180 cuidadores sociais em seus lares. A experiência foi compartilhada pelas equipes de Saúde e Assistência Social do município mineiro, com técnicos locais, representados por profissionais do CRAS Engomadeira, CRAS Cajazeiras 8, USF Estrada das Barreiras e USF Cajazeiras V.
Durante a oficina, os participantes conheceram aspectos importantes sobre o funcionamento do projeto em Belo Horizonte, com destaque para as principais ações, desdobramentos, desafios e conquistas do projeto nas áreas da saúde e da assistência social.
“Alguns estudos já mostram que o programa está associado a uma maior frequência de consultas ambulatoriais para reabilitação física, com impacto nos indicadores de prevenção de internações e de quedas, além de economia potencial de custos de reabilitação ambulatorial. Destacam-se ainda a manutenção dos cuidados ao idoso para as atividades da vida diária básicas e instrumentais, elevação da autoestima, autonomia, geração de vínculo e suporte familiar”, observa a enfermeira Samira Auxiliadora Pereira, referência técnica da Saúde da Pessoa Idosa, no Distrito Sanitário Norte, em Belo Horizonte.
Na atividade, a assistente social Ana Cristina da Silva, que atua na coordenação de acompanhamento da execução do Programa Maior Cuidado em Belo Horizonte, chamou atenção para a importância da integralidade de proteção às pessoas idosas, que só é possível graças à ação conjunta de diversos atores envolvidos, com destaque para a o papel da própria família, primeiro ator para garantia da proteção social. “O programa não substitui os cuidados da família. É um programa proativo, que atua na prevenção de agravos e violações”, conclui.
Seleção e capacitação dos cuidadores
No total, 4.089 pessoas se inscreveram no processo seletivo para cuidadores sociais de idosos no Programa Maior Cuidado, em Salvador. O edital com as informações sobre a contratação foi publicado no dia 4 de julho de 2023, através da Fundação Escola Politécnica da Bahia (FEP). A divulgação do processo seletivo contou com apoio do Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (CREASI).
Na próxima etapa, os selecionados participarão de um curso sobre cuidados socioassistenciais e de saúde prestados a idosos dependentes e semidependentes. A capacitação terá carga horária de 100 horas e será oferecida para 25 pessoas, de 21 anos ou mais, com formação de nível médio, residentes, preferencialmente, no território dos Distritos Sanitários Cabula/Beiru e Cajazeiras. Todos os participantes receberão certificado de cuidador social de idosos, emitido pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA).
Dentre os 25 cuidadores sociais que concluírem o curso, 17 serão contratados para atuar na prestação dos cuidados aos idosos e seus familiares, no ambiente domiciliar. Os cuidadores cumprirão uma carga horária de 44 horas semanais, de segunda a sexta feira, e serão responsáveis pelo cuidado de 3 a 4 idosos, a depender da necessidade de cuidados, prescritos no plano de cuidados.
A previsão é que os 17 cuidadores sociais selecionados comecem a trabalhar nos domicílios de 50 famílias atendidas pelo Programa Maior Cuidado a partir do mês de setembro.