Um estudo inédito conduzido por pesquisadores do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador (PISAT) vinculado ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) foi publicado nesta semana na revista Scientific Reports, do grupo Nature. O artigo, intitulado “Trends and patterns of work-related cyclist fatalities in Brazil, 2014–2022” (Tendências e padrões dos óbitos relacionados ao trabalho entre ciclistas no Brasil, 2014–2022), analisa a mortalidade de trabalhadores ciclistas no país ao longo de nove anos.
A pesquisa revela que, entre 2014 e 2022, foram registrados 6.590 óbitos de ciclistas em acidentes de transporte, dos quais 272 (4,1%) estavam relacionados ao trabalho. O estudo aponta ainda para um grave problema de subnotificação: mais da metade dos registros (57,2%) não apresentava informação sobre vínculo com acidente de trabalho, o que pode indicar uma realidade ainda mais preocupante.
O perfil das vítimas mostra que a maioria eram homens (87,1%), brancos (49,7%), com idades entre 29 e 58 anos (68,3%), residentes principalmente em áreas urbanas das regiões Sul e Sudeste (71%). A maior parte dos óbitos esteve associada a colisões com automóveis e veículos pesados (61,3%).
Os pesquisadores destacam que a média de idade dos trabalhadores foi de apenas 43,6 anos e que esses acidentes resultaram em cerca de 8.894 Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), com maior impacto entre trabalhadores da indústria. Para o coordenador do estudo, professor Cleber Cremonese (ISC/UFBA), os resultados reforçam a necessidade urgente de fortalecer a vigilância em saúde do trabalhador e implementar políticas públicas de segurança viária voltadas para ciclistas.
“A bicicleta é um meio de transporte sustentável e acessível, mas nossos dados mostram que a vulnerabilidade dos ciclistas trabalhadores, em especial entregadores e trabalhadores informais, precisa ser enfrentada com políticas específicas de proteção, infraestrutura adequada e valorização do trabalho seguro”, afirma Cremonese.
Além de evidenciar a precarização do trabalho sobre duas rodas em meio ao crescimento das plataformas digitais, o estudo contribui para o debate internacional sobre saúde pública, mobilidade urbana e segurança no trabalho. Cremonese provoca ainda uma reflexão entre os órgãos e profissionais envolvidos na identificação e registro de óbitos por causas externas relacionados ao trabalho, como o Ministério Público do Trabalho, a polícia civil, o departamento de polícia técnica e os médicos legistas.
O artigo está disponível em: DOI: 10.1038/s41598-025-17879-1.







